Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Doação de sangue: sem medo e sem desculpas

Dia 25 de novembro é o Dia Nacional do Doador de Sangue. Trocadilhos à parte, é uma justa homenagem àqueles que, literalmente, "dão o sangue" para salvar vidas.
Wikimedia Commons

Como vocês sabem, fui infectada com o vírus da hepatite C numa transfusão quando criança. Mas querem saber? Eu agradeço demais ao meu doador. É possível que ele nem esteja mais vivo hoje. Mas se eu estou, é por causa dele.

Hoje em dia, a possibilidade de transmissão da hepatite C numa transfusão de sangue é muito pequena, graças ao controle realizado pelos bancos de sangue. Para o doador, o risco é inexistente - pode doar tranquilamente. Mas para o receptor, ainda existe um pequeno risco, devido à janela imunológica, que é o tempo que o vírus leva para ser detectado no sangue após a contaminação. No caso da hepatite C, ela pode ser de 120 dias.

Por isso, gente, lá vai o primeiro recado de hoje: pelo amor de Deus, não minta no questionário do banco de sangue! Mesmo que você ache que é uma mentirinha inocente, que não fará mal algum. Se a pergunta está lá, acredite, existe um motivo. Você quer salvar vidas, não é? Então seja sincero.

Segundo recado: você que sempre responde que não pode doar sangue porque teve hepatite A quando criança, acabou a desculpa. Segundo a Fundação Pró-Sangue, não há contra-indicação se você teve hepatite A antes dos 10 anos de idade. Isso ocorre porque a doença não deixa sequelas nem partículas remanescentes após a cura.

Terceiro e último recado do dia: se você já é doador de sangue, parabéns e obrigado.
Se ainda não é, que tal pensar seriamente a respeito? Anime-se!


Para saber mais:

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vigília em memória das vítimas das hepatites B e C no Brasil

Aconteceu, hoje, a primeira vigília em memória das vítimas das hepatites B e C no Brasil em frente à Catedral Metropolitana de Brasília. A mobilização, organizada pelo Movimento Nacional das Hepatites Virais, ocorreu em meio ao IX Enong e reuniu diversas ongs participantes daquele evento. Representantes do Ministério da Saúde também estiveram presentes.


Foi um momento muito bonito, em que nos reunimos em oração pelas pessoas que já se foram, vítimas dessas duas doenças silenciosas. Eu estava com minha filha e, por alguns instantes, afastei-me da "multidão" para ficar com ela em silêncio, emocionada, pedindo que eu nunca precise ser lembrada como uma delas.
Eu, a Amandinha e a linda Raquel José, da World Hepatitis Alliance.

O ponto negativo foi a ausência de algumas ongs, considerando que um ônibus foi fretado pela organização do IX Enong  para levá-las do hotel até a Catedral.

IX Encontro Nacional de ONGs de Hepatites Virais (ENONG) - Brasília 2010

Começou hoje e vai até quarta-feira, dia 24 de novembro, o IX Encontro Nacional de ONGs de Hepatites Virais (ENONG). O evento está ocorrendo no Nobile Suites Lakeside, às margens do Lago Paranoá.

IX ENONG - Brasília, 22 a 24 de novembro de 2010

Mais uma vez fiquei super honrada com o convite para participar desse importante momento de mobilização das ongs das hepatites. Minha primeira experiência com o grupo foi no Enong de 2009 e já percebo avanços de um ano para o outro. O novo formato, com discussões em mesas temáticas, confere objetividade e eficiência à formulação de propostas.

No resgate histórico dos Enongs, percebe-se que poucas reivindicações das cartas anteriores - documentos resultantes dos eventos -  foram concretizadas. Jeová Pessin Fragoso, do Grupo Esperança, lembra a expectativa vivida pelas ongs no último Enong, devido à recém integração do Programa Nacional de Hepatites Virais ao Departamento de DSTs e Aids. Segundo Jeová, expectativa  hoje frustrada, uma vez que nem mesmo resposta à Carta de Brasília 2009 as ongs obtiveram.

Neste ano, a organização do Enong propõe que a carta seja formulada com mais objetividade e, sempre que possível, quantificada. Carlos Varaldo, presidente do Grupo Otimismo e da Aliança Independente dos Grupos de Apoio - Aiga, resumiu em sua fala inicial esse espírito, falando da necessidade de união, de luta e de estabelecer-se metas concretas, que possam ser avaliadas e cobradas. "O Enong não pode ser apenas uma carta de intenções. É preciso colocar metas, porque o gerúndio não se cobra" - disse ele.

Varaldo compartilhou com o público de ativistas que num recente congresso internacional ouviu do representante de determinado país que se eles fizessem uma campanha para diagnosticar todos os portadores de hepatite B, o gasto com o tratamento seria maior que o PIB. Por isso, eles investem em prevenção, mas quem já está infectado, "sinto muito".

Aí pergunto a vocês: não seria isso condenação de pena de morte para inocentes?

E o quão longe disso estamos no Brasil? Em 2010, tivemos uma campanha legal de incentivo à vacinação da hepatite B. Vejo diariamente no Twitter adolescentes reclamando da vacina, o que é um ótimo sinal, pois mostra que, mesmo meio contrariados, estão tomando. Mas... e as campanhas de diagnóstico para as hepatites B e C? Ainda temos muito o que avançar.

Esse foi o tema de uma das mesas temáticas: campanhas. Houve ainda no dia de hoje discussões sobre protocolos e tratamentos, prevenção primária e secundária, diagnóstico, controle social e transplantes. Amanhã, 23 de novembro, estão previstas duas mesas: medicamentos e integração do PNHV ao Departamento de DSTs e Aids. Nesse dia, serão feitas as apresentações das propostas formuladas por todos os grupos temáticos. Às 19h, haverá vigília pelas vítimas das hepatite B e C na Catedral de Brasília. A quarta-feira será um dia de plenária para discussão geral e aprovação dos textos das proposições.

Ríamos por eu ter contato ao Agnelo que minha filha
de 3 anos tem medo do boneco gigante dele que
desfila por Brasília.

E olha só! Eu e o querido Fernando Cezar Santos do Grupo Hércules encontramos o governador eleito do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e o senador Cristóvão Buarque. Distribuímos a eles panfletos sobre as hepatites e pedimos atenção a esse grave problema de saúde pública. Agnelo, que é médico, reforçou seu compromisso com a saúde.

Siga o @grupohercules no Twitter!

Na foto, eu sendo diplomada pelo Grupo Hércules pela ajuda na campanha de doação de órgãos deste ano. E por falar nisso, você já contou à sua família que é um doador? Essa simples conversa pode salvar a vida de várias pessoas! Para doar seus órgãos (que você não precisará mais), não é necessário deixar nada por escrito, basta você ter manifestado sua vontade em vida. Saiba mais no excelente site do Ministério da Saúde Doe Vida.




Atualização em 11/12/2010:
Conheça a Carta de Brasília 2010, documento de propostas resultante do IX Enong.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Hepatite A no calendário de vacinação

Reclamamos deles, com motivo. Mas quando acertam, precisamos aplaudir: o Senado aprovou ontem  a inclusão de novas vacinas no Calendário Básico de Vacinação da Criança, entre elas a de prevenção contra a hepatite A. O próximo passo será a sanção do presidente Lula*.


Julien Harneis - Wikimedia Commons 
Fiz um levantamento de quanto gastei com essas vacinas no primeiro ano da minha filha (2007 e 2008), em clínicas particulares. Somando todas as doses das vacinas de hepatite A, varicela e pneumococo, meningocócica conjugada C e pneumocócica conjugada sete valente - que serão agora disponibilizadas gratuitamente pelo SUS - foram R$ 1.139,00.

Na época eu pensava: o que minha filha tem de mais importante que a maior parte das crianças brasileiras, que lhe dá o direito à proteção contra doenças que matarão muitas que não tiverem essa oportunidade? Ah sim, eu tenho cartão de crédito com um bom limite e posso parcelar as vacinas em 3 vezes sem juros. Tsc tsc tsc... Injustiça social sendo corrigida, ainda que tardiamente, por nossos parlamentares.

Lembrei dos meus alunos da alfabetização de jovens e adultos, que certa vez discutindo sobre o tema saúde falavam sobre a verdade absoluta de que dinheiro comprava saúde. Usei vários argumentos para tentar convencê-los de que isso não estava correto, citando casos de celebridades com câncer, hiv etc. Sem sucesso. Para eles, esses casos eram exceções.

Não, dinheiro não é sinônimo de saúde. Por outro lado, é sinônimo de oportunidades de prevenção e de atendimento médico-hospitalar de qualidade.

Minhas lindas irmãs, que fazem dois anos neste mês de novembro, nasceram num hospital público aqui de Brasília. No meio do parto, faltou luz e o hospital não tinha gerador. A médica gritou: "Segura, para de fazer força, que eu vou buscar uma lanterna lá no meu carro". Inacreditável. Depois as mulheres paridas ficaram num quarto com chuveiro frio, deitadas em péssimos colchões, sem analgesia. No meio da madrugada, a mãe biológica das meninas precisou ligar-nos pedindo mais roupa para as crianças, porque estava muito frio e no hospital não havia cobertas. Conto isso pra vocês com meus olhos cheios de lágrimas.

Prezados parlamentares: obrigada por esse importante passo que deram ontem, rumo à garantia de oportunidade de prevenção para todos os nossos brasileirinhos. Mas por favor, imploro, invistam mais na saúde pública deste País. Façam valer o direito à saúde disposto no artigo 6º de nossa Constituição Federal.

Tenho até um projeto de lei para propôr a vocês: representantes eleitos do povo, estados e Distrito Federal e seus familiares diretos podem utilizar-se apenas do SUS e de escolas públicas. No caso de utilização de serviços particulares, ficam sujeitos à perda do mandato e inelegibilidade por 8 anos. Que tal?


* Atualização em 11/12/2010:
Eu falava que devíamos aplaudir quando o Congresso acerta, né? Pois bem, o projeto de lei citado neste post foi vetado pelo presidente Lula ontem, simplesmente porque algumas das vacinas propostas já haviam sido recentemente incluídas no calendário básico de vacinação da criança. Fui conferir no portal do Ministério da Saúde e é isso mesmo. Inclusive uma das vacinas disponibilizadas atualmente, a pneumocócica conjugada dez valente, é superior à  proposta no projeto de lei - pneumocócica conjugada sete valente. Resultado? Nossas crianças continuarão sem vacina gratuita de hepatite A e varicela. #epicfail