Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Falando francamente sobre camisinha

Um dos vídeos vencedores do Concurso Um Minutinho - 2010

O carnaval está chegando e, nesta época do ano,  intensificam-se as campanhas pelo uso da camisinha. Mas porque é necessário gastar tanto em campanhas se já estamos cansados de saber que o uso de preservativo é a única forma segura de prevenir doenças sexualmente transmissíveis?


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A resposta é simples: porque mesmo sabendo disso, e mesmo não querendo adquirir doenças graves como Aids e hepatite B, muitas pessoas não usam camisinha em suas relações sexuais, fortuitas ou não.

Nosso amigo Plutonauta, observando a Terra lá de Plutão, deve ficar confuso diante desse fato curioso: se as pessoas primam pela manutenção de sua vida e se têm o conhecimento necessário para fazê-lo, por que arriscam-se dessa forma? É o que vamos discutir agora.


1. Falando a verdade: Usar camisinha é ruim

O médico infectologista David Uip, em entrevista à IstoÉ, faz uma afirmação forte, mas tão importante quanto verdadeira: usar camisinha é ruim, assim como usar droga é bom.

Veja o que ele diz:
A Adriane Galisteu, que começou uma campanha beneficente, A Cara da Vida, para ajudar pacientes com Aids, fala uma coisa com a qual concordo plenamente. Temos que começar a falar a verdade. Camisinha é ruim. Droga é bom. Não adianta negar. Adriane diz publicamente que seu irmão morreu vítima da Aids e se contaminou com uso de drogas injetáveis. (Dias antes de morrer, o irmão da apresentadora pediu a ela que nunca experimentasse drogas, porque poderia gostar). Quando ela me contou desse pedido, inseri no contexto do que eu penso. Não venha dizer que camisinha é bom porque não é. E não adianta você dizer para um usuário de drogas que droga não é bom. É bom, mas mata, tenho que avisar. Sou visceralmente contra o uso de qualquer droga ilícita. Mas a conversa com a Adriane me fez refletir muito. Porque é verdadeira.Vou dizer para o usuário que não é legal ter barato? Ele vai dizer que eu digo isso porque nunca usei. Então temos que falar a verdade.

Se fosse bom usar camisinha, não precisaríamos de campanhas - convenhamos, nunca foram necessárias campanhas como "Coma chocolate" ou "Faça sexo".
Leia mais um trecho da entrevista com o Dr. David Uip:

Droga é bom? É, mas vai te matar. Camisinha é bom? Não, mas, se você não usar, pode morrer. Essa é a história. Não adianta advogar prazer, fetiche numa coisa que não tem. São situações desconfortáveis, mas necessárias. David Uip - leia a entrevista na íntegra.

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2. Não usar camisinha é, culturalmente, uma prova de confiança

No início dos relacionamentos, o uso do preservativo é até um pouco mais aceitável. Mas o que vemos é, a medida que as pessoas vão tornado-se mais íntimas, confiando mais no outro e sentindo-se mais seguras na relação, geralmente adotam a pílula e abandonam o uso da camisinha.

As perguntas que me faço (sim, me faço, pois também já fiz isso na vida algumas vezes) são:


Questão 1: A pessoa pode estar infectada sem saber
 
O fato de eu confiar no meu namorado ou namorada, de sermos íntimos e termos uma relação super legal, muda algo caso ele (ou ela) seja portador dos vírus HIV, HPV ou da hepatite B sem saber disso?  Ele(a) não está me enganando. Ele(a) apenas não sabe. Pense nisso:

  • 95% dos infectados com hepatite B no mundo desconhecem seu diagnósticoSaiba mais.
  • No Brasil, metade das pessoas infectadas com HIV nem imagina que tem o vírus. Saiba mais.
  • Estudos no mundo comprovam que 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Saiba mais.

Seria suficiente então os dois parceiros realizarem os exames e, em caso de todos terem resultado negativo, abolirem a camisinha? Não, não seria, porque...

Motivo 1: Janela imunológica. Leia mais sobre isso aqui.
Motivo 2: Você confia na pessoa 100% a ponto de colocar sua vida nas mãos dela? - e esta é a nossa segunda questão.


Questão 2: Sobre traição

Você confia 100% em seu parceiro, a ponto de colocar sua vida nas mãos dele?
Estou até vendo os leitores românticos balançando a cabeça afirmativamente. Acho lindo. Mas preciso dizer: vocês não deveriam fazer isso.

Todos os seres humanos são falíveis. Todos podemos cometer erros. Às vezes agimos por impulso e, bem… todos temos hormônios. O mais perigoso deles chama-se testosterona.
Não vou aqui  fazer aquela afirmação generalizada de que todos os homens traem, porque não acredito nisso. Mas também não sou ingênua: sei que todos os homens tem um potencial enorme para trair. E muitas mulheres também.
Tudo depende de uma conjunção de fatores e não entrarei nesse mérito, pois não sou especialista no assunto. Se quiser saber mais, confira o link ao final deste post.

As estatísticas mostram que é cada vez maior o número de mulheres casadas infectadas com o vírus HIV.

Momento puxão de orelha: homens, não estamos julgando vocês em traírem, mas será que dá pra colocar a mão na consciência e prevenir-se ao fazer isso?

Não só as casadas estão mais vulneráveis. O número de mulheres de 15 a 24 anos infectadas com HIV vem crescendo alarmantemente no Brasil. É por isso que a campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval 2011, lançada ontem, é voltada para o público feminino jovem.

sem camisinha não dá

A campanha tem vídeos sobre o antes, durante e depois do Carnaval. Um de seus pontos fortes é justamente o incentivo à testagem. Pena que a referência ao teste de hepatite apareça apenas na legenda (pôxa vida, hein @minsaude?), mas pelo menos aparece.


fique sabendo
Olhando assim, nem parece que o nome do Departamento é DST-Aids e hepatites virais.


Mas, críticas à parte, adorei a campanha.



Não precisa ser como a Lady Gaga e vestir-se toda de preservativo. Mas gente, precisa usar camisinha. Confiando ou não confiando no parceiro. Parecendo ele saudável ou não.

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Fonte: Lady Gaga em seu traje de preservativo

Espero que as gerações mais jovens não tenham o mesmo descuido que as nossas gerações têm, de modo geral, com o uso da camisinha.  Queria que, para eles, a expressão “é como chupar bala com papel” fosse a coisa mais sem sentido do mundo. Mesmo porque, pra quem sabe fazer direitinho, camisinha não atrapalha em nada. ;)


Outras fontes de consulta:

15 comentários:

  1. Existe alguma pesquisa efetiva que comprove a Hepatite C como sendo um DST.
    O governo trata a Hepatite C juntamente com HIV e demais DST's, e percebe-se que a negligência sobre a hepatite C é muito maior.

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  2. Não entendi o teor do comentário. Como assim, "o governo trata a Hepatite C juntamente com HIV e demais DSTs"?

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  3. Caros comentaristas anônimos 1 e 2,

    Segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologista, NÃO HÁ evidências científicas de que a hepatite C seja uma doença sexualmente transmissível. Vejam a carta que a SBH encaminhou em 2010 à imprensa falando sobre o assunto: Tudo sobre a hepatite C

    E é por isso que muitos questionam o fato da hepatite C ter sido recentemente incorporada pelo Departamento de DST-Aids.

    A hepatite B sim tem similaridades com esse departamento. Já a hepatite C, na opinião de militantes do movimento social, merecia um programa exclusivo, considerando as particularidades da doença e o grande número de infectados no Brasil (possivelmente 3,5 milhões). Mas isso é uma longa discussão...

    Pessoalmente, acho que não importa onde a hepatite C esteja inserida nos programas de governo, desde que receba a atenção que o problema - de dimensão epidêmica - merece. Estamos esperando por isso.

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  4. nao atrapalha pra você que é mulher.
    Utilize a feminina e veja se sabes fazer direito ou realmente impede a tranferencia de calor e altera a sensibilidade.
    Resumindo...
    Coloque uma luva de latex e tente pegar uma moeda de 5 centavos.

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  5. Caro Anônimo 4,

    Se você leu o post todo, viu que sua essência é justamente mostrar que usar camisinha é ruim sim. Acho que todos concordamos com isso. Mas é uma questão de escolha. E, neste caso, pode ser uma escolha de vida ou morte.

    Você está enganado se pensa que a camisinha incomoda apenas ao homem. No caso de vocês, como você disse, ela altera a sensibilidade. No nosso caso, além disso, ainda pode dar alergia e machucar, já que a região da vagina é muito sensível.

    Outro engano seu: na minha opinião, a camisinha feminina é muito mais confortável para ambos. É esteticamente um pouco feia, mas, tira o desconforto do "aperto" e não prejudica a sensibilidade.
    Uma desvantagem da feminina é o preço meio salgado, mas isso acho que vale a pena.
    Se você encontrá-la para vender, por favor me avise, porque não tenho encontrado em lugar algum.

    Uma dica: teste várias marcas e modelos disponíveis no mercado. Existem tamanhos maiores e também modelos ultrafinos.

    Pode parecer bobagem, mas apesar de ser uma coisa meio óbvia, tem gente que não coloca direito, o que causa mais desconforto.

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  6. Acho estranho um posicionamento como esse do anônimo. Felizmente hoje em dia há diversos modelos e tamanhos. Os modelos são encontrados facilmente, os tamanhos não. Recentemente tentei, para diminuir meu desconforto, procurar tamanhos maiores e constatei que não existem muitas marcas. Pior ainda é tentar achar a feminina. Rodei a cidade procurando e, quando não ouvi que estava em falta, ouvi que havia inclusive saído do catálogo. É um erro achar que a camisinha atrapalha. Quem pensa assim deveria mudar o conceito e notar que mesmo o momento em que se para para colocar pode ser excitante. Maneiras de fazer desse um momento prazeroso existem aos montes. Quanto à transferência de calor e alteração na sensibilidade, entendo que estamos muito centrados lá embaixo e pensando menos em cima... Acreditar que o ato sexual é composto apenas da penetração é reduzir algo maravilhoso à ação de colocar o caminhãozinho na garaginha. Quem pensa assim e não quer proteger a si mesmo e respeitar o parceiro protegendo-o deveria deixar essa ideia besta de transar e ficar apenas na masturbação. Que me perdoem os leitores daqui do blog, mas é muita babaquice trocar o prazer eterno da consciência tranquila de que estamos nos protegendo, pela excitação e adrenalina de brincar com a morte.

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    1. Só sei q é horrível muito horrível se eu soubesse tinha me cuidado por aí....contrai o hiv aos 21 anos sou controladora de elite minha vida e normal mais me casei tenho uma filha sem hiv e eu e meu marido só transamos de camisinha e é horrível vc ter q transa de camisinha para sempre pq vc se arriscou com um desconhecido acho q esse ponto ninguém falou

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  7. Realmente o que você disse é a mais pura verdade.

    Usar drogas é bom, usar a camisinha é desconvortável. Porém ambas as decições podem MATAR.

    Acho que um dos motivos de nunca ter tido a miníma vontade de experimentar algumas droga foi justamente isso. Saber que a sensação era muito boa, mas que ela poderia te matar.

    Foi assim que meus pais me explicaram sobre o uso de alguma droga. Eles falavam é bom é, mas isso um dia vai acabar te matando. Vale a pena ?

    Quanto ao uso da camisinha, é verdade que ela incomoda.
    E o pior é que se você perguntar sobre o que leva as pessoas a usarem a camisinha, uma parcela bem maior do que 50 % irão dizer que o principal motivo é não ter uma gravidez indesejada.

    De certa forma parece que o HIV fica em segundo plano.

    Sempre uso camisinha, para não parecer hipócrita só deixei de usar camisinha com uma pessoa até hoje com eu namorei por quase 01 ano, e justamente não abolir o uso da camisinha quando você passa a ter um relacionamento estável é meio estranho.

    Entendo os argumentos apresentados, mas se você não pode ter confiança. Melhor não assumir um relacionamento sério.

    No meu caso eu sei que não tenho o virus HIV, ou alguma outra doença, por um motivo simples, sempre doo (como se escreve isso ???ssrsrs) sangue e eles avisariam caso fosse infectado.

    E também por que sou militar e onde sirvo somos obrigados a fazer testes gerais a cada 4 meses.

    Mas finalizando conrdo que usar camisinha é desconfortavel, mas necessário.

    Porém quando você assume um relacionamento de confiança mutua usa-la por medo de traição, ou coisa do genero.

    É sinal que na verdade você não confia ainda.

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  8. Anônimo 6,
    Adorei tudo o que disse.
    #rialto com a história do "caminhãozinho na garaginha". Lindo o que falou sobre isso.
    E concordo totalmente com você quando fala sobre brincar com a morte: não deixa de ser um tipo de roleta russa, principalmente quando se trata de sexo casual.

    Vinicius,
    Seu comentário enriqueceu muito nossa discussão, obrigada!
    Como eu disse no post, culturalmente achamos mesmo que deixar de usar camisinha é prova de confiança. O problema é o número cada vez maior de mulheres casadas que estão sendo infectadas por seus maridos, nos quais, obviamente, confiam.
    É uma questão delicada, concordo. Mas precisamos falar sobre ela.

    As pesquisas mostram que as mulheres são muito mais vulneráveis ao HIV. Por isso acho legal a campanha do Ministério da Saúde focar as mulheres jovens, visando uma mudança cultural. Porque o dia que todas as meninas disserem: "Sem camisinha não dá", as escolhas ficarão bem restritas, né?

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  9. Ana, você pode indicar um bom hepatologista em Brasília? Obrigada.

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  10. Oi, Ana!
    Muito bom o post. Super informativo, TODOS deviam ter esta consciência.
    Como Agente Comunitário de Saúde, eu tenho que fazer minha parte e aconselhar meus "pacientes" sobre tudo o que li aqui. Estávamos até distribuindo um panfleto falando sobre o preservativo (que vinha com uma camisinha de brinde xP) e o preventivo, que é um exame SUPER importante que todas as mulheres devem fazer anualmente. Olha só, uma dica de post! xD
    Enfim, parabéns!

    Beijos,
    Malú.

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  11. Anônimo 9,
    Em Brasília, você pode procurar os hepatologistas Liliana Sampaio Costa Mendes e Mauro Birche. Ambos atendem no Hospital de Base e também em seus consultórios particulares.

    Malú,
    Obrigada pela visita. Que bom que achou o post útil! Elogios vindo de uma profissional de saúde contam em dobro (rs).
    Dica de post anotada. Valeu!

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  12. he he !!! Muito Obrigado pela citação, realmente fico confuso diante da ignorância das pessoas nessas questões primordiais.

    O post ficou excelente, essa alusão entre "Usar camisinha é ruim" e "Usar drogas é bom" foi brilhante ...

    abs. T+

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  13. Mto bom o post, parabéns.
    Sou enfermeira e lendo os comentários vi q alguns leitores apresentam dificuldades em encontrar camisinhas femininas. Isso ocorre pq não fez mto sucesso desde q foi lançada, algumas pessoas não gostam pq fica algo menos convidativo e infelizmente pq algumas mulheres têm vergonha de se tocarem e conhecer o próprio corpo e acabam não sabendo como utilizá-la.
    Eu particularmente nunca vi nenhuma camisinha feminina em farmácias ou outras lojas, mas a camisinha feminina ainda pode ser encontrada em alguns postos de saúde, e é fornecida de graça assim como a masculina.

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  14. Plutonauta;
    Que honra receber um visitante vindo de terras tão distantes. Seja sempre bem-vindo!

    Mari,
    Obrigada pela dica. Há alguns (muitos) anos atrás, já comprei a camisinha feminina em farmácias, mas nunca mais achei. Recentemente, uma amiga trouxe pra mim de Paris, mas o custo fica muito alto. Valeu pela dica dos postos de saúde.
    Essa questão das mulheres desconhecerem o próprio corpo é muito relevante. Vale a reflexão.
    Um abraço e obrigada por contribuir!

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