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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Luto

Faz 15 dias que recebi a notícia de “não ter passado no exame”, ou seja, do exame de sangue ter mostrado que o tratamento não funcionou e que não ficarei curada - pelo menos não por enquanto, pelo que a medicina dispõe hoje.

Estou de licença-saúde desde a semana passada. Tenho a impressão de ter aguentado esses meses de tratamento como uma fortaleza e, de repente, estar precisando recuperar as forças despendidas para isso.
Qual é o meu sentimento? De luto.

Uma coisa é a gente saber que tem uma doença grave, mas que existe tratamento e que há possibilidade de cura. Outra coisa é saber que o tratamento disponível atualmente não funcionou e, portanto, a gente continua com a tal doença - sabe-se lá até quando, como ela vai evoluir, em quanto tempo, com quais consequências. Junte a isso a debilidade física e a indisposição emocional, naturais após 27 semanas de um tratamento agressivo para o corpo.

Dá um sentimento de impotência, sabe? De incapacidade. E eu, que gosto sempre de ter o controle de tudo, preciso me resignar e aceitar de vez que só Deus tem o controle - o que eu acho que tenho feito até muito bem, de uma forma tranquila, positiva e animada.

Estou no momento de viver esse luto, de re-significar as coisas pra mim, de me preservar. E acaba rolando uma certa somatização, um enjôo, uma sensação de estar andando sem pisar o chão, uma dificuldade de concentração, uma falta de apetite. Não sei ao certo o que ainda é efeito dos remédios e o que é emocional - acho que devem ser os dois, mas também não importa.

Segundo minha psicóloga, o que estou passando é muito natural. Seria preocupante, sim, se eu, nessa situação, continuasse como se nada tivesse acontecido.

Uma colega me emprestou um livro que tem tudo a ver com esse momento que estou vivendo, de redescoberta, de busca por formas de viver bem e ser feliz, apesar dessa pequena pedra no caminho.
Compartilho com vocês um trecho que fala justamente sobre o que sinto agora.


"Em marcha, os enlutados! Sim, eles serão reconfortados!


(...) as pessoas não são felizes porque não sabem lidar com o luto. São muitas as formas de luto. O luto pela morte de alguém próximo, o luto pelo término de uma relação, o luto pela perda de um emprego, o luto pela perda de uma certa imagem de si mesmo, o luto pela perda de uma crença.
O que é ficar de luto? É aceitar que o passado se torne passado. Esta aceitação é realmente uma condição de felicidade. Porque, na maior parte do tempo, o passado se projeta sobre o presente e impede que ele seja vivido plenamente. Por isso, saber ficar de luto é uma verdadeira bem-aventurança. Aceitar que o que foi não seja mais. Aceitar que realmente o passado seja passado. Isso não quer dizer esquecer o passado. Quer dizer apenas parar de projetá-lo, sem cessar, sobre o presente.
(...)
Ficar de luto implica em ação, a não ficar passivo diante dos fatos. (...) É necessário portanto expressar os sentimentos. A beatitude do luto é também a beatitude das lágrimas. É bom rir, é bom chorar, é bom viver plenamente as emoções.
(...) 
Portanto, é preciso viver o luto e fazer sua travessia. Muitas vezes as pessoas ficam aprisionadas em suas memórias, em suas lamentações e é preciso ir além. Mas para ir além delas é preciso passar por elas. Porque quando não vivenciam o luto, o corpo pode vivenciá-lo. Sabe-se que na origem de um certo número de cânceres há lutos que não foram vividos, há mortes que não foram aceitas, há um passado que não passou e que volta ao corpo, consumindo-o e destruindo-o.
Vivenciar o luto é uma condição não apenas de felicidade, mas também de saúde."

LELOUP, Jean-Yves. Livro dos Bem-Aventuranças e do Pai-Nosso. Uma antropologia do desejo. Editora Vozes, 2004 (trechos retirados das páginas 67 e 68).

7 comentários:

  1. Flor,
    Isso ai é só uma fase, não muito boa, é só esperar a fase melhor aparecer... e com certeza ela vai aparecer. Suas palavras e sua força ajudam pessoas em situação semelhante.
    Abraço!

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  2. Oi, achei por acaso seu blog e fiquei impressionada. Sou portadora do HCV desde os 7 anos de idade, mas o vírus está "dormindo", assim dizem os médicos, e espero eu que ele nunca acorde desse sono. Inúmeras são as nossas frustrações quando o que se apresenta na vida é muito maior que a nossa capacidade de interferir, imagino o que você está vivenciando. Só que temos um Deus, lembre-se sempre, ele há de te trazer ainda mais livramentos do que já trouxe. Prometo que voltarei aqui outras vezes e, fique na paz! :)

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  3. Olá Flor, como eu sei como te sentes. Eu empenhei-me tanto no tratamento, fiz tudo certinho, sofri tanto, tive tantos maus momentos, mas sabia que estava a fazer alguma coisa por mim e pelos meus filhotes. Quando o médico me disse que ía-mos parar porque não estava a resultar, acho que chorei o dia inteiro. Depois comecei a sentir o resultado de ter parado, lembro-me de me sentir com uma força imensa, sem dores, cheia de apetite...logo depois o meu cabelo parou de cair... e agora Flor, vou começar já daqui a cinco dias a tal experiênia. Vou falar-te melhor dela. É um estudo do laboratório Boehringer Ingelheim, com 400 pacientes a nível mundial, vai ser igual ao teu, Ribavirina com o interferão mais uma coisa de nome BI-20325. Neste estudo vão participar apenas portadores do tipo 1 e não respondedores ao 1º tratamento, até agora já existe uma percentagem de sucesso de 70%. É muito bom! Ao mesmo tempo estão já a terminar mais dois estudos, cujos resultados também estão a ser muito animadores. Lembra-te que o estudo de HCV está finalmente em pleno desenvolvimento. Qualquer um destes fármacos novos, de tiver sucesso estará daqui a um ou dois anos no mercado.
    Aproveita agora para por a tua cabecinha e o teu corpo em condições pois deve estar debilitado e tem calma. Não sei como são as coisas aí no Brasil, espero que sejam asssim fáceis. Quando parei o meu tratamento, lembro-me de pensar que já não me sentia tão bem há exactamente 28 semanas. Aproveita! E nunca te esqueças que temos que animar ... animando c é isso mesmo não é?
    Um beijinho grande e Força!

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  4. Queridos, obrigada! Suas palavras me dão ânimo e esperança, bem no espírito desse blog.

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  5. Transcrevo os comentários sobre esse post deixados no orkut:
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    É verdade Flor, precisamos cuidar de nossas feridas. Tratá-las para que haja uma boa cicatrização. Enquanto nossas feridas ainda estiverem abertas estaremos vivendo o nosso luto. Não adianta agirmos como se nada tivesse acontecido, como se ela não estivesse alí, ou como se diz "tapar o sol com a peneira", pois haverá o dia em que ela vai sangrar de novo, e muito possivelmente em uma doença.
    Então cuidemos de nossa saúde, tratando de nossas feridas.
    Felizmente temos nossos amores, que nos ajudam sempre a enfrentar nossos lutos.
    Beijinhos guria (ex vizinha, rsss)
    ♥ Eliane ♥ Nathi
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    Florzinha
    Que Deus te fortaleça e renove tuas esperanças, pois tenha certeza que este tempo de tratamento não foi de todo perdido.
    Não desanime, aguarde um novo tratamento ou novos remédios e continue sendo essa pessoa iluminada e linda que vc é.
    Bjs.
    Adriana
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    Flor,
    Esta foi a minha segunda tentativa de tratamento novamente fracassada. Estamos no mesmo barco, mas pense na vantagem que é se ter uma doença silenciosa?!
    Como dizia a mãe do meu compadre, espanhola forte da galizia, que criou sozinha o filho, o formou médico em faculdade particular, sendo analfabeta -= De algo hay de morrer!
    Eliana Marques

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  6. Mais...
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    Posso imagir o que está sentindo, fiz tto de 48 semanas e aguardei + 06 meses para obter esta mesma resposta "sem sucesso" isso foi em outubro de 2008 e hoje, exatamente hoje,fui buscar medicação para um retratamento agora por um período de 18 meses. Este momento que está vivendo é difícil, mas com certeza vai "superar" e o importante é ter muita fé e não desistir NUNCA. Abraços e muita força.
    Roberto
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    Força
    Quando esgotamos todas as nossas forças e achamos que é impossivel, é ai que entra Deus em nossa vida. Pessoas que tem tendencia a querer controlar tudo, são as que mais sofrem, falo por mim, meu marido ficou paralisado por conta de um AVC 1 ano e 8 meses em cima de uma cama, morrendo um poco a cada dia... Foi horrivel, mas veio a minha cura emocional dai, dessa experiencia, aprendi a viver um dia de cada vez, ficar presente somente no agora, e saber que, agora que eu posso projetar o meu amanhã, dependendo de como eu me sentir agora, é como será meu futuro.
    Eu acredito em milagres, (já vi muitos)e creio que qdo pensamos que perdemos, é pq tem algo grandioso vindo para nós.
    O tempo de Deus é diferente do nosso tempo, fé é acreditar no que não se pode ver!!
    Força e Coragem.
    Vitórias para vc.;
    Sueli
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    Flor,
    Nossa vida, normalmente, gira em torno de tarefas repetitivas, automáticas em torno do lar, do trabalho, de marido, filhos,tudo vai sendo passado tão rapidamente que a gente mal tem tempo para parar .
    A doença aparece então, de repente... assusta, mas é como um convite à reflexão, a uma mudança de vida e de padrões que muitas vezes nos aprisionavam. Isso pode acontecer de dois modos:(o que fiz para merecer isso?...será que agora vão me dar valor......mas eu sou azarada mesmo...etc) ou então, ir á luta, espernear, pesquisar, se tratar física e emocionalmente - como acredito que todos nós aqui o fazemos.
    Nosso coração é sábio e sempre nos conduz ao melhor caminho. Precisamos é deixar que ele fale, naturalmente, encarando a verdade; fazer escolhas sobre o que te faz bem abertamente, sem disfarçar para que não seja percebido!
    Esse seu luto (falamos sobre ele, não é?) é uma fase que não pode ser escondida. Deve ser passada, sim, para depois ser deixada para trás e você poder recomeçar de onde parou, do seu jeito, no seu ritmo e, especialmente, quando for a hora certa!
    Um abraço, boas energias para você, que é mais uma guerreira, somada às que já temos aqui na comunidade...
    Eli Angela
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    Flor
    Vou fazer pela quarta vez, fiz ao todo 16 meses. Dei um tempo e estou louca pra voltar e ver aquele papel NEGATIVO, ou INDETECTÁVEL.
    Nesse tempo de não fazer tto, acompanhei o tto de muuuuuita gente e dou a maior fôrça. Tem gente que demora mais para responder ao tratamento e dessa vez vou mais bem preparada.
    Sandrinha

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  7. 2011 ESTOU AQUI ,PASSANDO POR TUDO ISSO TAMBEM .O MEU PRIMEIRO TRATAMENTO NÃO FOI POSITIVO.SOFRI MUITO.MAIS ESTOU AQUI ,E DEUS ESTA COMIGO .

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