Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

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domingo, 2 de março de 2014

"Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava" - Sério?


O assunto é polêmico e já foi discutido por aqui algumas vezes:



Foto: LeNair Xavier - Flickr



No final do ano passado, eu representei a AIGA no Fórum de Consulta Regional sobre a resposta brasileira à DST/AIDS e Hepatites Virais na Região Centro-Oeste, em Goiânia, junto com Carlos Varaldo do Grupo Otimismo. No grupo de discussão em que eu estava, lá vem o assunto sendo abordado de novo: "não sei porque as ONGs insistem que hepatite C não é DST, se o percentual não é 0, então é porque é" - alguém disse.  

Ok... não vou entrar no mérito da discussão mais uma vez. Hoje quero apenas refletir sobre matéria publicada na internet no mês passado, sob o título: "Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava"

Sério, às vezes eu leio algumas reportagens que me fazem questionar quem não sabe interpretar dados, se os repórteres ou se os próprios cientistas. 

Senão vejamos: está bem claro no texto que o estudo a que ele se refere foi realizado APENAS COM PORTADORES DE HIV.  Sendo assim, em hipótese alguma pode-se concluir que:

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença que mantêm relações sexuais. 

Isso porque, em Ciência, você não pode estudar um caso e induzir os resultados para os demais casos. 

O correto seria dizer: 

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença CO-INFECTADAS COM HIV que mantêm relações sexuais DESPROTEGIDAS. 


Desde 2005 que eu leio que o vírus da hepatite C pode ser transmitido RARAMENTE por via sexual e que isso se dá ESPECIALMENTE se houver uma outra infecção, como o HIV. Quer dizer, o HIV facilitaria a transmissão. O estudo em questão está confirmando isso. Mas não que o risco de transmissão da hepatite C SEJA MAIOR DO QUE SE PENSAVA. 

Isso me lembra uma pesquisa brasileira de 2010 que chegou à mesma conclusão com uma amostra de pessoas que declaradamente faziam sexo com muitos parceiros sem proteção, sem nem checar outros comportamentos de risco (além desse!), como uso de drogas e existência de outras doenças infecciosas. 

A matéria atual também fala que "os homossexuais parecem particularmente propensos a contrair esta doença por via sexual, embora os pesquisadores não sabem ainda qual é a razão. 'Uma explicação possível é que as relações sexuais por via anal aumentam a possibilidade de contato sanguíneo entre os casais', indicou Günthard."

Meu comentário: já foi comprovado por outros estudos com homens que fazem sexo com homens que isso não se verifica. Quando não há a infecção por HIV, a transmissão do vírus da hepatite C por essa via continua igualmente RARA.

Finalmente, eles dizem: 
Por enquanto, os pesquisadores não sabem se os casos de hepatite C transmitida por via sexual aumentaram em pessoas não portadoras de HIV 
BINGO! 

Mas o texto que segue justificando isso é uma mera hipótese, que não poderia nem mesmo ser formulada a partir desse estudo (e que, na minha opinião, nem se aplica): 
Isto acontece porque os pacientes com HIV se submetem a testes médicos regularmente devido a sua doença, por isso que é mais fácil detectar a hepatite C nestas pessoas, coisa que não ocorre com as pessoas que não são soropositivas. Nestes casos, a maioria desenvolve os sintomas da doença semanas ou inclusive meses após contrair a infecção. 
Na verdade, a maior parte dos infectados nem tem sintomas, diferente do que diz aí. E, além do mais, existem outros estudos que dão conta desse caso. 

Portanto, #fail total. 
Vocês viram que hoje nem estou discutindo se a hepatite C é ou não transmitida sexualmente. Apenas estou mostrando que isso não pode ser afirmado por meio do estudo em questão. 




Já que estamos falando novamente sobre esse assunto - e que estamos em pleno Carnaval, quando muitas pessoas ficam mais "liberadinhas" - vamos aproveitar para lembrar o post: 



Só para constar: ontem no meio da transmissão do carnaval de Salvador pelo SBT, o Ministro da Saúde Arthur Chioro falou sobre o uso do preservativo e a possibilidade de fazer o teste rápido de HIV e hepatites B e C em vários locais de festa pelo País. Curti! :) 

Foto: Paulo Mandarino/AgNews




Notícias / Ciência & Saúde


Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava
03/02/2014 - 19:22


Cientistas suíços descobriram que ao risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava até agora, além de métodos como transfusão de sangue e troca de seringas com pessoas infectadas. O estudo, realizado a partir de uma base de dados de portadores do vírus da Aids (HIV), foi realizado pelos cientistas Roger Kouyos e Huldrych Günthard do Hospital Universitário de Zurique com o apoio do Fundo Nacional Suíço (FNS), segundo informou a organização através de um comunicado.

Os pacientes com HIV que têm um parceiro portador tanto do vírus do HIV e da hepatite C têm entre duas e três vezes mais possibilidades de se contagiar com esse tipo de hepatite do que outras pessoas soropositivas, segundo o estudo. Há alguns anos, se achava que a hepatite C era transmitida sobretudo por contato sanguíneo, mas os cientistas descobriram que cada vez mais pacientes homossexuais portadores de HIV contraem a doença.

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença que mantêm relações sexuais. Este dado indica que "existem contágios de hepatite C sexualmente transmissíveis", comentou Kouyos.

Os cientistas compararam a estrutura molecular do vírus HIV em mais de 10 mil pacientes e 1.500 casais e acharam casos nos quais as sequências genéticas do vírus entre dois pacientes concordavam, o que levou à conclusão de que um tinha sido contagiado pelo outro.

Os homossexuais parecem particularmente propensos a contrair esta doença por via sexual, embora os pesquisadores não sabem ainda qual é a razão. "Uma explicação possível é que as relações sexuais por via anal aumentam a possibilidade de contato sanguíneo entre os casais", indicou Günthard.

"As pessoas portadoras de HIV e hepatite C não deveriam ter relações sexuais sem proteção", acrescentou. Por enquanto, os pesquisadores não sabem se os casos de hepatite C transmitida por via sexual aumentaram em pessoas não portadoras de HIV.

Isto acontece porque os pacientes com HIV se submetem a testes médicos regularmente devido a sua doença, por isso que é mais fácil detectar a hepatite C nestas pessoas, coisa que não ocorre com as pessoas que não são soropositivas. Nestes casos, a maioria desenvolve os sintomas da doença semanas ou inclusive meses após contrair a infecção.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Hepatite C não é DST, diz Ministério da Saúde

A hepatite C é uma doença sexualmente transmissível? Embora as pesquisas sugiram que não, o assunto é controverso. Frequentemente jornais e revistas divulgam informações equivocadas, classificando erroneamente a hepatite C como uma DST.


Quando me referi a esse assunto em entrevista ao programa Cenas do Brasil em abril deste ano, o Diretor-adjunto do Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde Eduardo Barbosa confirmou ao vivo: "a hepatite C não é uma doença sexualmente transmissível" (veja vídeo abaixo). 




Então porque o site do Departamento trazia até o início deste mês a seguinte informação: "para se prevenir da hepatite C, usar preservativo em todas as relações sexuais"? o.O

"Trazia", pois nos últimos dias foi ao ar um novo texto: 

A transmissão sexual do HCV entre parceiros heterossexuais é muito pouco frequente, principalmente nos casais monogâmicos. Sendo assim, a hepatite C não é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), porém entre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) e na presence da infecção pelo HIV, a via sexual deve ser considerada para a transmissão do HCV. Fonte: www.aids.gov.br


Essa foi uma questão que as ONGs de hepatites solicitavam revisão há 5 anos e fico feliz por ter, de certo modo, tido a oportunidade de participar - mesmo que de forma bem modesta. Acompanhem os últimos acontecimentos:  


  • Em fevereiro deste ano, o jornal Estadão veiculou reportagem com o título SUPER-CONTAMINADORES, que iniciava assim: "A hepatite C, doença sexualmente transmissível, (...)"

  • Ao escrever para a editora do jornal solicitando correção da matéria, conforme sugerido pelo Grupo Otimismo, recebi a seguinte resposta: 
Prezados

Bom dia. Segundo o Ministério da Saúde a Hepatite C é sim transmissível por via sexual. Esta não é, porém, a principal via e a matéria tratava justamente disso. Portanto, não há motivo algum para correção. Seguimos as diretrizes de saúde pública vigentes no país.  O Ministério da Saúde recomenda o uso de preservativo para evitar a contaminação. Ela é minoritária, chega a até 4% dos casos, e é mais frequente no sexo entre homens. 

Por favor, consultem o site do MS



Atenciosamente

Ana Lucia Azevedo

  • No mês seguinte, quando estive presente fisicamente no Departamento de DST-AIDS e Hepatites Virais pela ocasião do lançamento da Campanha do Dia da Mulher tive a oportunidade de relatar o ocorrido e questionar o texto divulgado no site do Departamento. A percepção que tive foi enviada por email a Carlos Varaldo, presidente do Grupo Otimismo, naquele mesmo dia: "O fato é que houve uma abertura explícita para colocarmos isso em discussão. E eu acho que deveríamos aproveitá-la." 

  • Retomei esse assunto em minha fala na palestra no Hospital Universitário de Brasília em 13/07/2013. Varaldo palestrava sobre a importância do controle social e usei-o como exemplo de como poderíamos nos envolver na luta contra a desinformação nas hepatites. Relatei o ocorrido com o Estadão e meu questionamento ao Departamento. 

  • 06/08/2013 Email do Grupo Otimismo aos associados:
Hepatite C é sexualmente transmissível?

Hoje enviamos e-mail ao Departamento DST/AIDS/Hepatites para que que na página sobre hepatite C seja retirada do final do texto a TAG que diz ser a hepatite C uma doença sexualmente transmissível, uma DST.
Sempre que uma matéria jornalística colocava que a hepatite C é uma doença sexualmente transmissível e tentávamos uma retração, respondiam que assim se encontrava no site do ministério da saúde, em http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-c  e nada mais podíamos fazer para consertar o erro.
Observamos que muita coisa está mudando para melhor no Departamento DST/AIDS/Hepatites desde que assumiu a nova direção, pois em poucas horas recebemos resposta a nosso e-mail, a página foi imediatamente retirada do ar e, uma nova redação será colocada nos próximos dias.
Já era hora, pois reclamávamos disso há uns 5 anos e nunca fomos atendidos. Obrigado aos novos gestores do Departamento para contribuir a diminuir o estigma e discriminação dos infectados com hepatite C.

  • 29/08/2013 Email do Grupo Otimismo aos associados:
O Departamento DST/AIDS/Hepatites atendeu a solicitação colocando na sua página na internet novos textos para as hepatites, desta vez de forma correta em relação a transmissão sexual da hepatite C, não mais a considerando uma DST, tal qual o consenso mundial.
No segundo paragrafo da página está explicado que: a hepatite C não é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST).
Veja com seus próprios olhos em http://www.aids.gov.br/hepatites-virais
É gratificante confirmar que muita coisa está mudando no Departamento DST/AIDS/Hepatites. Após quatro anos ignorando o movimento social as ONGs agora estão sendo ouvidas e respeitadas.
Obrigado Dr. Fabio Mesquita e Jorge Eurico por atenderem em menos de três semanas o apelo que realizei no dia 5 de agosto.

Juntos podemos vencer as hepatites!


A união faz a força! 
foto de Eduardo Rosa 72 (cc)

Com esse relato queremos, além de comunicar uma vitória em relação ao combate à desinformação quanto a hepatite C, mostrar como cada um de nós pode contribuir mesmo que um pouquinho na luta contra essa doença. Participe! 


PS: Quando dizemos que a hepatite C não é considerada uma doença sexualmente transmissível, não estamos querendo dizer que você não deve usar preservativo nas relações sexuais. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Você tem muitos motivos para continuar usando (ou passar a usar!). Esse é outro assunto polêmico que convidamos você a discutir conosco: Falando francamente sobre camisinha.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Falando francamente sobre camisinha

Um dos vídeos vencedores do Concurso Um Minutinho - 2010

O carnaval está chegando e, nesta época do ano,  intensificam-se as campanhas pelo uso da camisinha. Mas porque é necessário gastar tanto em campanhas se já estamos cansados de saber que o uso de preservativo é a única forma segura de prevenir doenças sexualmente transmissíveis?


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A resposta é simples: porque mesmo sabendo disso, e mesmo não querendo adquirir doenças graves como Aids e hepatite B, muitas pessoas não usam camisinha em suas relações sexuais, fortuitas ou não.

Nosso amigo Plutonauta, observando a Terra lá de Plutão, deve ficar confuso diante desse fato curioso: se as pessoas primam pela manutenção de sua vida e se têm o conhecimento necessário para fazê-lo, por que arriscam-se dessa forma? É o que vamos discutir agora.


1. Falando a verdade: Usar camisinha é ruim

O médico infectologista David Uip, em entrevista à IstoÉ, faz uma afirmação forte, mas tão importante quanto verdadeira: usar camisinha é ruim, assim como usar droga é bom.

Veja o que ele diz:
A Adriane Galisteu, que começou uma campanha beneficente, A Cara da Vida, para ajudar pacientes com Aids, fala uma coisa com a qual concordo plenamente. Temos que começar a falar a verdade. Camisinha é ruim. Droga é bom. Não adianta negar. Adriane diz publicamente que seu irmão morreu vítima da Aids e se contaminou com uso de drogas injetáveis. (Dias antes de morrer, o irmão da apresentadora pediu a ela que nunca experimentasse drogas, porque poderia gostar). Quando ela me contou desse pedido, inseri no contexto do que eu penso. Não venha dizer que camisinha é bom porque não é. E não adianta você dizer para um usuário de drogas que droga não é bom. É bom, mas mata, tenho que avisar. Sou visceralmente contra o uso de qualquer droga ilícita. Mas a conversa com a Adriane me fez refletir muito. Porque é verdadeira.Vou dizer para o usuário que não é legal ter barato? Ele vai dizer que eu digo isso porque nunca usei. Então temos que falar a verdade.

Se fosse bom usar camisinha, não precisaríamos de campanhas - convenhamos, nunca foram necessárias campanhas como "Coma chocolate" ou "Faça sexo".
Leia mais um trecho da entrevista com o Dr. David Uip:

Droga é bom? É, mas vai te matar. Camisinha é bom? Não, mas, se você não usar, pode morrer. Essa é a história. Não adianta advogar prazer, fetiche numa coisa que não tem. São situações desconfortáveis, mas necessárias. David Uip - leia a entrevista na íntegra.

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2. Não usar camisinha é, culturalmente, uma prova de confiança

No início dos relacionamentos, o uso do preservativo é até um pouco mais aceitável. Mas o que vemos é, a medida que as pessoas vão tornado-se mais íntimas, confiando mais no outro e sentindo-se mais seguras na relação, geralmente adotam a pílula e abandonam o uso da camisinha.

As perguntas que me faço (sim, me faço, pois também já fiz isso na vida algumas vezes) são:


Questão 1: A pessoa pode estar infectada sem saber
 
O fato de eu confiar no meu namorado ou namorada, de sermos íntimos e termos uma relação super legal, muda algo caso ele (ou ela) seja portador dos vírus HIV, HPV ou da hepatite B sem saber disso?  Ele(a) não está me enganando. Ele(a) apenas não sabe. Pense nisso:

  • 95% dos infectados com hepatite B no mundo desconhecem seu diagnósticoSaiba mais.
  • No Brasil, metade das pessoas infectadas com HIV nem imagina que tem o vírus. Saiba mais.
  • Estudos no mundo comprovam que 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Saiba mais.

Seria suficiente então os dois parceiros realizarem os exames e, em caso de todos terem resultado negativo, abolirem a camisinha? Não, não seria, porque...

Motivo 1: Janela imunológica. Leia mais sobre isso aqui.
Motivo 2: Você confia na pessoa 100% a ponto de colocar sua vida nas mãos dela? - e esta é a nossa segunda questão.


Questão 2: Sobre traição

Você confia 100% em seu parceiro, a ponto de colocar sua vida nas mãos dele?
Estou até vendo os leitores românticos balançando a cabeça afirmativamente. Acho lindo. Mas preciso dizer: vocês não deveriam fazer isso.

Todos os seres humanos são falíveis. Todos podemos cometer erros. Às vezes agimos por impulso e, bem… todos temos hormônios. O mais perigoso deles chama-se testosterona.
Não vou aqui  fazer aquela afirmação generalizada de que todos os homens traem, porque não acredito nisso. Mas também não sou ingênua: sei que todos os homens tem um potencial enorme para trair. E muitas mulheres também.
Tudo depende de uma conjunção de fatores e não entrarei nesse mérito, pois não sou especialista no assunto. Se quiser saber mais, confira o link ao final deste post.

As estatísticas mostram que é cada vez maior o número de mulheres casadas infectadas com o vírus HIV.

Momento puxão de orelha: homens, não estamos julgando vocês em traírem, mas será que dá pra colocar a mão na consciência e prevenir-se ao fazer isso?

Não só as casadas estão mais vulneráveis. O número de mulheres de 15 a 24 anos infectadas com HIV vem crescendo alarmantemente no Brasil. É por isso que a campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval 2011, lançada ontem, é voltada para o público feminino jovem.

sem camisinha não dá

A campanha tem vídeos sobre o antes, durante e depois do Carnaval. Um de seus pontos fortes é justamente o incentivo à testagem. Pena que a referência ao teste de hepatite apareça apenas na legenda (pôxa vida, hein @minsaude?), mas pelo menos aparece.


fique sabendo
Olhando assim, nem parece que o nome do Departamento é DST-Aids e hepatites virais.


Mas, críticas à parte, adorei a campanha.



Não precisa ser como a Lady Gaga e vestir-se toda de preservativo. Mas gente, precisa usar camisinha. Confiando ou não confiando no parceiro. Parecendo ele saudável ou não.

Lady-Gaga-e-seu-vestido-de-preservativo-lady-gaga
Fonte: Lady Gaga em seu traje de preservativo

Espero que as gerações mais jovens não tenham o mesmo descuido que as nossas gerações têm, de modo geral, com o uso da camisinha.  Queria que, para eles, a expressão “é como chupar bala com papel” fosse a coisa mais sem sentido do mundo. Mesmo porque, pra quem sabe fazer direitinho, camisinha não atrapalha em nada. ;)


Outras fontes de consulta:

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Flagrante de discriminação no Big Brother Brasil

O preconceito é, talvez, um dos maiores males do mundo moderno. Ele está por aí, escondido na maior parte das vezes. O que nos assusta é vê-lo tão escancarado em situações como a descrita neste post.

Sem, é claro, julgar o mérito do programa, vamos ater-nos a um fato isolado do BBB 11:
A reportagem exposta no link acima é um claro exemplo do que pode ser considerado discriminação.

Já havíamos visto situação semelhante no programa. Lembram-se dessa matéria sobre o BBB 2:
"Tarciana e Jeferson transaram sem camisinha, mas os dois não correram risco às cegas. Ao serem selecionados para o Big Brother Brasil, todos os 12 participantes são submetidos a testes anti-HIV e anti-hepatite C e só entram na casa aqueles cujo resultado do exame dá negativo. A iniciativa visa a proteger os próprios participantes." [grifo meu] Fonte: Globo.com


Em primeiro lugar, como já abordei diversas vezes aqui no Animando-C, a hepatite C não é uma doença sexualmente transmissível, como sugerido na matéria da Globo.com. Para quem não sabe, a transmissão da hepatite C se dá de forma parental, ou seja, contato direto de sangue com sangue contaminado. Clique para saber mais sobre a transmissão da hepatite C.

É possível que, como em muitas outras reportagens e artigos que circulam pela internet, eles estivessem tentando referir-se à hepatite B, que é outra doença - esta sim sexualmente transmissível, com risco de contágio 100 vezes maior que o HIV.

O que poderia ser apenas uma situação vergonhosa acaba tomando ares grotescos quando a reportagem afirma que "a iniciativa visa a proteger os próprios participantes". Soa estranho ou não?

As pessoas precisam ser protegidas dos infectados com HIV e HCV? Eles são um risco à sociedade? É perigoso conviver com eles? É perigoso ter relações de qualquer tipo, inclusive sexuais, com eles?

Não, gente! Não!!!

É pra combater o preconceito, não reforçá-lo: campanha do beijo polêmico do Ministério da Saúde.

Acham que estou exagerando? Então vejam os comentários abaixo, retirados da matéria citada no início deste post:
claudia - 14/01/2011 - 13:59 Estão mais do que certos, tanto a Globo quanto a Record*, já pensou numa prova do programa um destes doentes machucarem e transmitir uma doença contagiosa que não tem cura para um participante desavisado? Ia ter chuvas de processos.
maria - 14/01/2011 - 11:22 Estão certos reality não é local para estes tipos de doentes. vai que contagia alguém. nunca vi uma edição de bbb com tanta gente feia!!!!!!!!!!

*Segundo divulgado na mídia, na terceira edição de A Fazenda, um jogador de futebol teria sido cortado do programa, mesmo depois de ter assinado contrato, pelos exames terem detectado uma DST não divulgada.

Além dos erros conceituais que, nesse caso, referem-se à propagação da ideia de que a hepatite C pode ser transmitida pelo contato sexual, há um ensinamento muito mais permissivo: "olha, pode transar sem camisinha quando a pessoa é saudável, viu?"

Não, gente, não!!! (de novo)

Não dá pra julgar pela cara quem é saudável ou não.
E, sinceramente, nem pelo exame. Já ouviram falar em janela imunológica? Sabia que você pode estar infectado com HIV e o exame dar negativo?
Por que você acha que depois de fazer uma tatuagem você precisa ficar um ano sem doar sangue? É por que não estão precisando do seu sangue? #not

O preconceito contra soropositivos já foi explicitado numa edição anterior do Big Brother na Alemanha, como podemos ler neste post do blog Saudaids (recomendo):

Mas percebam que nesse caso o preconceito foi de um participante, não do programa.

Toda essa discussão me lembrou mais uma coisa: é crime realizar exames de HIV e hepatites virais sem o consentimento do paciente, inclusive para admissão ou exames periódicos em empresas. Fique atento! Leia abaixo o que diz a cartilha da Aiga sobre o assunto:

É crime a realização de teste das hepatites sem o conhecimento das pessoas? Sim. Todo o procedimento médico somente pode ser realizado com o esclarecimento e consentimento prévio das pessoas (art. 46 do Código de Ética Medica), em face ao direito de dispor sobre seu próprio corpo. Caracteriza crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP), a realização do teste das hepatites, sem o consentimento da pessoa ou do responsável legal, salvo se justificada por iminente perigo de vida (art. 146 § 3º do CP). O teste das hepatites em pré-operatórios, sem esclarecimento e consentimento do paciente, excetuado os casos de iminente risco de vida, é crime, violação à ética profissional e gera direito a indenização. A realização dos testes das hepatites, como forma de segurança da equipe médica, gera uma falsa segurança se considerarmos fatores como a "janela imunológica", por exemplo, além de violar os direitos das pessoas. Se você for submetido a testes para diagnosticar as hepatites, sem a sua autorização e consentimento, procure produzir prova sobre este fato através de testemunhas ou documentos.
A empresa tem direito de realizar o teste de detecção das hepatites para admissão de empregados? O teste das hepatites admissional é ilegal e não deve ser realizado nem de forma voluntária. O fato de a pessoa ser portadora de hepatite não implica redução da capacidade para o trabalho. O art. 182 da CLT exige exames para apurar a aptidão física na função que deverá exercer, o que torna desnecessária e discriminatória a solicitação de teste para detecção das hepatites. Por sua vez, a Lei nº 9.029/95, proíbe "a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego, ou sua manutenção". A mesma lei também estabelece como crime a realização de teste ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou estado de gravidez da empregada. No serviço público federal, através da portaria 869, de 11 de agosto de 1992, fica proibida a exigência de teste anti-HIV (perfeitamente aplicável, também, para os testes de detecção das hepatites), tanto nos exames admissionais como nos demissionais e periódicos.
O que deve ser feito diante da exigência do teste das hepatites como exame admissional, periódico ou demissional? O exame admissional não deve ser solicitado, mesmo com a concordância do trabalhador. Os exames periódicos e demissionais somente podem ser feitos com o conhecimento e consentimento do empregado. Caso você tenha seu direito violado, denuncie o fato ao Ministério Público do Trabalho, Delegacia Regional do Trabalho, Conselho Regional de Medicina e organizações não-governamentais. Quanto ao exame demissional, o objetivo é proteger o empregado e preservar o empregador de futuros problemas. Se o trabalhador estiver doente, não poderá ser dispensado, devendo ser encaminhado ao INSS para exame médico pericial e licença. Na hipótese da incapacidade para o trabalho ou para sua atividade habitual, por mais de 15 dias, será devido o benefício do auxílio-doença de acordo com o parecer do médico perito, que por lei, é quem dá o parecer final sobre o caso. Caso um edital de concurso exija o teste das hepatites e o candidato aprovado seja excluído por ser positivo, deverá procurar ajuda na Justiça, para, mediante uma AÇÃO CAUTELAR garantir o direito a admissão evitando o ato discriminatório.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Hepatite C é uma doença sexualmente transmissível?

O resultado do anti HCV negativo que meu marido recebeu hoje motivou-me a falar sobre esse tema controverso. Afinal, a hepatite C pode ser considerada uma DST?

Flickr Creative Common- Imagem compartilhada por NeoGaboX

Na minha opinião, não.
As pesquisas mostram que a transmissão da hepatite C entre casais heterossexuais monogâmicos é muito rara. Nos estudos que li, essa ocorrência varia de 0,4% a 3% (com variações dentro desses valores; por exemplo, em artigo apresentado pelo Grupo Otimismo em 2005, o risco seria de 0 a 0,6% ao ano). 

É interessante observar que, em vários casos em que o parceiro também está infectado, o genótipo do vírus ou a variação de seu genoma são diferentes do outro, o que exclui a possibilidade de transmissão entre eles. Além disso, muitas vezes são observados outros fatores de risco, como compartilhamento de lâminas de barbear e instrumentos de manicure, uso de drogas injetáveis ilícitas e uso de tatuagem (que pode ter sido feita sem a devida esterilização/descarte dos instrumentos). 

Em 2007, foi publicado estudo sobre a transmissão sexual por meio de sexo anal. Até então, falava-se da pequena incidência de transmissão no sexo "normal" (risos), mas cogitava-se que no sexo anal, pelo risco de fissuras que pudessem apresentar traços de sangue, o risco seria maior. No estudo realizado com homossexuais masculinos, isso não se verificou. 

No fórum da comunidade Hepatite C no orkut, esse tema foi muito discutido (engraçado que, quando se trata de assunto picante, praticamente só as mulheres falam; os homens ficam lendo caladinhos - porque ninguém me convence que eles não lêem!). A pesquisa foi justamente para saber se havia ocorrido transmissão entre os parceiros. Pelo que lembro, apenas num caso havia ocorrido (mesmo assim, precisamos lembrar das outras possibilidades de transmissão entre o casal).
O engraçado é que, para a pesquisa valer, precisava responder se fazia "barba, cabelo e bigode", porque só "papai e mamãe" não era válido para os fins do nosso "estudo".

Conclusões:
1) Como tem mulher safada por aí (risos risos risos).*
2) A ocorrência de ambos os parceiros infectados é muito pequena - corroborando as pesquisas científicas (essa foi boa, Flor, pesquisa no orkut "corroborando pesquisa científica"). 

* ATUALIZAÇÃO EM 20/05/2010
Numa sociedade onde o sexo ainda é tabu, isso pode ser mal interpretado. Quando falei "safada", me referi a mulheres muito bem resolvidas sexualmente, que não tem pudores de ter prazer com seus maridos - no que me incluo. 

A primeira médica que consultei disse que o uso de preservativo era uma escolha do casal, não havendo orientação específica para isso. Meu médico atual já orienta que o preservativo seja usado. De qualquer forma, eu uso pela questão contraceptiva, já que portadoras de hepatite C não devem usar anticoncepcionais a base de hormônios (pílulas, por exemplo) - falei sobre isso no post Hepatite C e anticoncepcionais

Agora, nada de "oba oba", hein gente? Lembrem que a hepatite B é sexualmente transmissível e o risco de contágio é cem vezes mais fácil que o da Aids, além do número de infectados com hepatite B ser três vezes superior aos de infectados com HIV (fonte: Hepatite B - uma epidemia em crescimento). Além disso, não preciso lembrar vocês do número de DSTs existentes, né? Bom, é sempre bom lembrar: Aprenda sobre as DSTs - Ministério da Saúde

A hepatite C não é uma doença sexualmente transmissível, mas, em alguns casos, pode ser transmitida sexualmente. Pra você não há diferença entre essas duas coisas? Pra mim há muita diferença.

Fontes para consulta:
Artigo do Dr. Stéfano Gonçalves Jorge


Atualização em 14/05/2010:
QUIZ - Durante a relação sexual, um dos parceiros tem hepatite C e existe contato de sangue com sangue (por exemplo: menstruação e feridas/fissuras). O outro pode ser infectado?
1) Sim    2) Não

Resposta: Sim... "sangue com sangue". A infecção não se daria pela relação sexual em si (fluidos), mas pelo contato sanguíneo.