Aproveitei minha visita ao
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais para o lançamento da campanha do Dia Internacional da Mulher e conversei com técnicos sobre a disponibilização dos novos medicamentos - por ser esta uma questão frequente dos leitores do Animando-C.
A boa notícia é que os medicamentos já estão todos lá, aguardando por nós. :)
"Mas por que o governo não os disponibiliza logo?", alguns perguntarão. "Pra que enrolar tanto?", certamente questionarão outros.
A resposta é simples e coerente: não basta somente disponibilizar um novo medicamento aos usuários. Especialmente em se tratando de um remédio tão novo no mercado, cujos dados existentes são oriundos apenas de pesquisas. É necessário um acompanhamento muito cuidadoso do tratamento acontecendo na "vida real", com pessoas que esquecem de tomar o remédio na hora certa, de ingerir a quantidade certa de gordura e que, sendo cada indivíduo diferente, podem apresentar efeitos colaterais diversos.
A aprovação do Telaprevir e Boceprevir no Brasil ocorreu com uma recomendação que eu considero de extrema relevância: junto com a introdução do remédio, será obrigatório um monitoramento clínico dos pacientes. Ou seja, os medicamentos não serão apenas disponibilizados pelo SUS, mas todos os dados do andamento dos tratamentos serão acompanhados e registrados.
Para isso é necessária uma equipe multidisciplinar treinada, que também deverá estar apta a proceder da forma correta diante dos efeitos colaterais possíveis dessas novas drogas.
E esse é um dos motivos pelos quais os medicamentos serão introduzidos aos poucos nas diferentes regiões do Brasil, a medida que cada equipe for sendo capacitada. Isso quer dizer que os medicamentos não serão disponibilizados em todos os lugares ao mesmo tempo. Equipe capacitada = medicamentos disponíveis. Já existe um cronograma definido que começa no final de março e se esgota ainda no primeiro semestre. Por isso, podemos baixar nossa ansiedade.
Outra questão importante, além da capacitação das equipes, é a necessidade de existência de estoque suficiente dos medicamentos para contornar os efeitos colaterais, como a diminuição de plaquetas e leucócitos. Isso também está sendo providenciado.
Fiquei extremamente satisfeita com o que vi (e ouvi) hoje no
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Minha percepção é de que o processo está sendo conduzido com cuidado e respeito.
Como esse é um blog PESSOAL - e tenho o direito a dar a MINHA opinião - fica aqui uma sugestão: faça sim esse novo tratamento, mas SOMENTE se você tiver indicação para ele.
Se seu caso ainda não estiver contemplado no protocolo, apesar de você ter o direito de buscá-lo na justiça, considero que essa decisão deveria ser muito ponderada.
Isso porque existem em andamento várias pesquisas de novos medicamentos muito promissores, com previsão para lançamento nos próximos cinco anos, que até dispensam o uso de interferon e ribavirina!
Utilizar os inibidores de proteases agora, se você ainda não tiver indicação, seria uma monoterapia, ou seja: apenas UM antiviral agindo sobre o vírus de UMA forma específica.
Quem tiver condições clínicas de esperar, poderá no futuro fazer uso de um conjunto de medicamentos que agirão sobre o vírus cada um de uma forma diferente, diminuindo as chances do vírus resistir.
Mas estejam atentos ao que eu disse: "quem tiver condições clínicas de esperar". Ou seja, são os resultados dos exames que devem dizer se você tem indicação para o tratamento com inibidores de proteases neste momento ou não. Converse com seu médico, peça uma segunda opinião se achar necessário.
E boa sorte pra todos nós! De uma forma ou de outra, sinto a cura da
hepatite C cada vez mais próxima.