Portadores de hepatite C crônica devem, regularmente, medir o grau de fibrose no fígado para acompanhar a progressão da doença. Com base nesse resultado, tem-se a indicação ou não para o tratamento da hepatite: no Brasil, são contemplados pelo protocolo do SUS os portadores que tenham grau de fibrose F2 ou maior - a escala vai até F4, que corresponde à cirrose. Ou seja, se seu resultado for inferior a F2, não é necessário realizar o tratamento ainda - o que é motivo de comemoração, porque quer dizer que seu fígado ainda está sadio e que você pode esperar o lançamento de medicamentos menos agressivos, que já se encontram em testes.
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Até o ano passado, a única forma de verificarmos o grau de fibrose do fígado era a biópsia hepática - exame geralmente temido pelos pacientes por se tratar de uma técnica invasiva e com alguns riscos, como o de perfuração de outros órgãos acidentalmente.
A partir de 2011, já podemos realizar no Brasil* a elastografia hepática por meio de um aparelho chamado Fibroscan, aprovado pela Anvisa. Estudos mostram que o grau de confiabilidade desse exame na medição da fibrose é muito alto (já na verificação da esteatose - gordura no fígado - os testes ainda não foram conclusivos).
* Como a elastografia transitória ainda não está disponível pelo SUS, apenas os brasileiros que têm condições de arcar com custos de R$ 1.300,00 a R$ 2.000,00 podem realizá-lo por enquanto. Como o aparelho é muito caro (em torno de 80 mil euros, ou seja, aproximadamente R$ 200 mil), poucas clínicas oferecem o exame no Brasil: veja aqui onde você encontra o Fibroscan em nosso país.
Como funciona o Fibroscan?
Sem agulha, sem dor, sem riscos. O exame é similar a uma ultrasonografia, em que ondas são enviadas pelo fígado e faz-se a medição de quanto tempo elas levam para atravessá-lo. Explicando de uma forma simplista: quanto mais molinho o fígado estiver, mais saudável e mais tempo as ondas levarão para percorrê-lo; quanto mais fibroses, mais duro estará o órgão e assim as ondas o percorrerão mais rapidamente.
O exame é muito rápido, levando em média 15 minutos. Ao final, o resultado é mostrado na hora, em números:
- de 0 a 10 - fígado sadio
- de 10 a 40 - diferentes graus de fibrose
- acima de 40 - cirrose
Minha experiência
Realizei o exame há duas semanas na clínica Pró-Fígado, em São Paulo. O Dr. Hoel Sette, hepatologista que dirige a clínica e médico que realizou meu exame, é um excelente profissional na área das hepatites, atuando também em transplante de fígado. Ele possui uma característica que considero muito importante: paciência e disponibilidade para explicar para pacientes curiosas, como eu, tudo sobre o exame.
Foi realmente muito tranquilo. A única coisa que sentimos na hora são batidinhas de leve onde o equipamento é posicionado (veja nas fotos abaixo). Então, se você puder arcar com os custos do exame, recomendo. Vale até fazer uma vaquinha com os parentes e amigos para ajudar com as despesas, inclusive da viagem, se não houver uma clínica onde você mora.
É claro que a última palavra é sempre do seu médico assistente: é ele quem decide se o
Fibroscan poderá substituir a biópsia em seu caso. Isso porque, apesar dos estudos mostrarem a confiabilidade do exame, em alguns casos a biópsia pode ainda ser necessária, conforme publicado pelo
Grupo Otimismo neste mês -
veja aqui.
Mas os leitores que acompanham esse blog há algum tempo devem estar se perguntando: e o resultado?
O resultado do meu exame, meus amigos, foi a melhor parte: 5,9 - ou seja: fígado sadio, equivalente a F0/F1. "Fígado de bebê", como escrevi aos familiares e amigos na mensagem que mandei do consultório mesmo, ainda com lágrimas nos olhos.
Fiquei muito emocionada pela regressão da fibrose, que suponho se dever ao período de tratamento em 2008/2009 - em que a baixa na carga viral, mesmo sem negativação, implica menor agressão ao fígado -, também ao meu estilo de vida (cuidado com a alimentação, exercícios físicos e fuga do stress sempre que possível) e, claro, a Deus acima de tudo.
Isso significa que
não tenho
indicação para retratamento por enquanto e posso continuar levando minha vida normalmente. A propósito, vocês já viram no outro blog o que eu ando aprontando? Dê uma passadinha por lá e
veja as fotos e vídeo da minha aventura nas cavernas de Terra Ronca. Isso é para lembrar que a
hepatite C é grave, inspira cuidados, mas que a vida é boa demais para que a desperdicemos lastimando termos sido infectados. Carpe diem!
Curiosidade: a técnica da elastografia transitória foi inicialmente desenvolvida para verificar a qualidade de queijos brie, sendo posteriormente transposta pelos pesquisadores para o uso humano na medição da fibrose hepática.