"A borboleta do Animando-C remete à ideia de transformação, de possibilidade de re-significação e recomeço." Fonte: Sobre o blog
No próximo mês, completa-se 30 anos do dia em que fui infectada com o vírus da
hepatite C, aos 8 anos de idade, numa transfusão de sangue após cirurgia pulmonar.
Há 11 anos fui diagnosticada. Onze anos convivendo com o medo e o sentimento de impotência, nascidos da certeza de que havia uma bomba relógio dentro de mim e eu não podia fazer nada para desligá-la. Mas também 11 anos que mudaram o rumo da minha vida e durante os quais me tornei a pessoa que sou hoje, tão melhor do que já fui e tão mais feliz também. A beleza do contraditório.
Hoje escrevo o post que mais quis escrever desde que o
Animando-C foi criado. De repente, pego-me sem palavras, sem saber como expressar o que sinto neste momento. É como se finalmente o casulo se rompesse e eu pudesse estender minhas asas coloridas, brilhantes e translúcidas. Olho para a imensidão do céu azul à minha frente e, por alguns segundos, me pergunto se é mesmo verdade. E voo. Livre. Sem o enorme peso que carregava até então dentro das minhas veias.
Estou curada!
O exame após três meses de fim de tratamento com sofosbuvir e simeprevir diz:
NÃO DETECTADO. Li, reli, chorei que nem uma criança. Abracei tão forte meu namorado que ele deve ter ficado sem ar. Pulei, dancei - que nem uma criança também. Agradeci a Deus, Jesus, Kwan yin, Krishna, anjos, Oxalá e a todas as demais divindades e santidades existentes nesse universo, que me deram suporte por meio das preces de muitas pessoas - conhecidas e desconhecidas - e as energias positivas enviadas pelas pessoas que não acreditam em nada disso, mas queriam o meu bem.
Mandei o print do exame para a BFF (best friend forever), liguei para minha mãe, meu pai, contei no whatsapp da família e para as pessoas que acompanharam mais de perto toda a batalha. Minha filha ficava o dia inteiro na escola naquele dia. Fui até lá, pedi para tirarem-na da sala de aula, e ali, entre as árvores e tartarugas, contei para ela que a mamãe estava curada da
hepatite C. Ela pulou no meu pescoço com um gritinho explosivo e o sorriso mais lindo e sincero desse mundo. Sei que, aos 8 anos, ela não tem ainda noção da gravidade de tudo isso. Mas ela sabe que eu precisava ficar curada, sabe que existia risco e até já gravou um audio para o então Ministro da Saúde pedindo a liberação dos medicamentos.
O pedido dela e de muitos de nós foi ouvido. Fiz o tratamento todo
gratuitamente pelo SUS - e jamais teria 150 mil dólares para pagar por ele. Então, claro, agradeci também à presidente afastada Dilma Roussef, a todos os ministros que ocuparam aquela cadeira no Ministério da Saúde nos últimos anos, a todas as pessoas que trabalham no Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais e Secretaria de Saúde do DF - desde o moço que limpa o chão, a moça que serve o cafezinho, até o ex-Diretor Dr. Fábio Mesquita. Agradeci às Ongs que lutam pelos nossos direitos, ao meu médico infectologista Dr. David e à população brasileira que paga seus impostos.
A luta continua, é claro. Até que cada um esteja curado e essa doença extinta do planeta. Até que não exista mais preconceito. Espero ter a oportunidade de ver esse dia chegar. E sabem de uma coisa? É muito provável que verei.
Cada vez que joguei uma moeda num poço dos desejos, pedi não só pela minha cura mas de todos os leitores do
Animando-C. Vocês que deixam seus recadinhos carinhosos aqui e nas redes sociais, e também àqueles que só leem e nada escrevem - eu sei que vocês estão aí. ;) Meu desejo começou a ser atendido. Chegou a minha vez e de muitos outros leitores que compartilham conosco a sua cura. Mas ainda é só o começo. Não desanime se você ainda estiver aguardando por esse "não detectado", porque sua hora vai chegar. Eu acredito nisso e espero que você também. Porque sei que não sou mais merecedora dessa cura do que ninguém. Cada vida é única e essencial neste planeta.
Do vírus, já me despedi aqui:
Carta ao vírus da Hepatite C
Agora me despeço do
Animando-C, porque a vida é feita de um "deixar para trás o que já não nos pertence mais". O blog ficará sempre com vocês e espero que continue ajudando como vocês tantas vezes me contaram que aconteceu. Enquanto isso, vou borboletear por aí. Porque se tem uma coisa que a
hepatite C me ensinou, é a criar a minha própria felicidade, apesar de todas as pedras do caminho.
Não fiquem tristes, porque eu continuo com cada um de vocês.
Que cada lágrima de alegria que rolou dos olhos de meus familiares e amigos, cada sorriso sincero, cada sentimento de alívio que vi nesses últimos quatro dias, se transforme em algo bom para esse nosso mundo, que anda tão precisado amor. Grata por ser merecedora de tanto carinho.
Ah! Lembrei da palavra perfeita:
epifania.
Do ponto de vista filosófico, a epifania significa uma sensação profunda de realização, no sentido de compreender a essência das coisas. Ou seja, a sensação de considerar algo como solucionado, esclarecido ou completo. (...)
Os ingleses costumam utilizar muito este termo dizendo: “I just had an epiphany”, no sentido de “pensamento indescritível e único”. Fonte: http://www.significados.com.br/epifania/
Era uma vez uma Flor, que um certo dia, em meio a um sentimento indescritível e único, virou uma linda borboleta e voou...
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LOKAH SAMASTAH SUKHINO BHAVANTHU "Que todos os seres sejam felizes e que meus pensamentos, palavras e atos contribuam para a felicidade de todos." |