O que pode haver de tão interessante numa história adolescente capaz de criar tamanha euforia?
Claro que já tivemos outros grandes sucessos teen na história, como Harry Potter.
Mas agora temos um elemento interessante a analisar: mulheres de 20/30/40 anos suspirando como bobas por causa de um vampiro adolescente? Opa, o que está acontecendo?
Uma história fascinante? Uma escritora incrível? Algum debate socio-histórico-filosófico-cultural inquietante? Não, não e não.
A história é até criativa, mas, convenhamos, o livro parece escrito por uma adolescente - diálogos pobres e falta de profundidade (por favor, adolescentes, não se sintam ofendidos pela minha generalização simplista). Mas numa coisa Stephenie Meyer é mestra: prender a nossa atenção e fazer-nos devorar as páginas. É uma leitura meio viciante.
Provavelmente você deve ter percebido que fui uma das mulheres de 30 que devorou os livros da série.
Confesso: culpada por suspirar pelo vampiro adolescente (claro que não me juntei aos gritinhos histéricos no cinema e coisa e tal). Mas admito o fascínio.
Eu, que gosto de refletir e racionalizar, tenho a minha teoria.
É o próprio Edward que explica à Bella que é o caçador mais perfeito da natureza, já que tudo nele atrai a presa: a aparência, o cheiro etc etc etc. Mas tem uma coisa que eu acho que é a chave da histeria feminina: a personalidade.
Por mais modernas, resolvidas e independentes que sejamos, no fundo no fundo a gente deseja um amor como esse. Um homem que nos acha a pessoa mais linda e interessante da face da terra, que acha nossos defeitos divertidos, que nos deseja acima de tudo - um desejo que é físico, emocional, espiritual. Um homem que é capaz de um sacrifício por nossa causa, que está sempre ao nosso lado e pronto para nos defender desse mundo insano que vivemos. E que tal um relacionamento como aquele? Cumplicidade, compreensão, diálogo... Edward e Bella nem precisam mesmo ler o pensamento um do outro, porque já sabem como o outro pensa. Se conhecem. E amam incondicionalmente o que conhecem.
Tudo muito lindo e romântico, mas vou dizer uma coisa: NADA SAUDÁVEL.
Eu já tive meu Edward Cullen. Fui casada com ele durante quase 6 anos.
E me separei (por minha iniciativa) amando-o tanto que achava ser incapaz de sobreviver sem ele.
Ele era minha vida, meu ar, meu chão.
Sabe aquele casalzinho modelo, alvo de admiração e inveja, que é feliz como as pessoas julgam que jamais poderiam ser? Pois é, éramos nós.
Eu tinha o meu "príncipe encantado" e me sentia a pessoa mais especial da face da terra. Ele fazia com que eu me sentisse assim. Eu me via assim nos olhos dele.
Eu não tinha o que temer, nem tinha o que mais querer.
Vivíamos uma vida de privação financeira, mas nada daquilo abalava o que sentíamos um pelo outro. Um amor e uma cabana.
Tudo era "tão perfeito", "tão perfeito", que minha psicóloga só foi notar que havia algo errado depois de um ano de terapia. Qual era o problema?
"Uma só carne".
Diria John Lennon:
"Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada 'dois em um': duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável."
É claro que não quisemos nos anular.
Mas é isso o que acontece. Tão gradual e silenciosamente, que quando vemos: Ops! Não existe mais um "eu" sem aquela pessoa.
E é assim que Bella decide abrir mão de sua própria vida (e talvez de sua alma, não se tem certeza) para ficar a eternidade ao lado de Edward. Até a morte parecia não ser suficiente - e eu digo a vocês que entendo perfeitamente.
Foram anos de terapia até compreender que o vazio existencial que eu vivia, a depressão que me assolava, não era só um problema genético como eu achava.
Era o reflexo da perda de mim mesma.
Chegou o momento da escolha e eu, sangrando, fiz a opção por mim.
Virei um "anjo caído".
Humana, falível, normal. Digamos que fiz o caminho inverso da Bella.
Não me arrependo, por mais doloroso que tenha sido.
Porque se tem uma coisa que pode ser melhor do que amar e ser amada por um "Edward Cullen", é amar e ser amada por si mesma na mesma intensidade.
Eu não tinha idéia do que significava AUTONOMIA.
Eu não imaginava que conseguiria me sentir mais feliz do que era naquela época, mesmo não tendo todas as minhas necessidades afetivas supridas.
É por isso que eu alerto: cuidado com o que você deseja.
Lendo vários trechos de Eclipse e Amanhecer eu revivia situações e identificava algumas "ciladas".
Não quer dizer que você não possa sonhar com seu Edward. Mas se encontrá-lo, não faça como Bella (nem como eu): nunca abra mão de você mesma.
E se não encontrá-lo, dê de ombros. Fala aí, John Lennon:
"Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.
Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém"
PS: Em 29.09.2006, meu "Edward" André Luís se foi no acidente do vôo 1907 da GOL.
Já estávamos separados há dois anos, ambos no segundo casamento, mas ele continuava sendo meu melhor amigo. Ninguém nunca me entendeu como ele.
Me senti a viúva no seu enterro.
Eu era viúva no coração.
Não achei que pudesse seguir em frente. Sentia que não sobreviveria à sua partida.
Mas sabem por que eu sobrevivi???
Porque, dessa vez, eu tinha a mim.
Um ano depois, nascia minha linda Amanda. A vida continua...