Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. Cora Coralina
Dia Internacional da Mulher. Enquanto muitos criticam a existência da data, eu a defendo por considerar importante celebrarmos um marco na luta contra a desigualdade de gênero.
Muitos diriam que tal desigualdade nem existe. Para o pensamento liberal, as oportunidades são iguais para todos e obtém sucesso aquele que mais se esforça e desempenha suas funções melhor que os demais.
Isso explicaria, por exemplo, porque as mulheres são minoria nos mais altos cargos das organizações, já que não se esforçam o suficiente, não querem pagar o preço da carreira e blablabla.
Fato é que as oportunidades não são iguais. E as empresas, na maior parte com suas culturas predominantemente machistas, não valorizam as características femininas, que poderiam trazer tanto ou até mais resultado do que... bem, vocês sabem como funciona o mercado hoje.
Se for mulher, negra e nordestina então... sente na pele três preconceitos velados (às vezes nem tão velados assim).
Mulheres e hepatite C
Além de todas as situações de risco de infecção com o vírus da hepatite C às quais ambos os gêneros estão sujeitos, destaco a seguir algumas susceptibilidades femininas.
- Nas décadas de 70 e 80, muitas mulheres submetidas à cesariana receberam transfusão de sangue sem seu prévio conhecimento. Estima-se que, por causa das cesáreas, 250 mil mulheres estejam infectadas com hepatite C, sendo que apenas um pequeno número delas está ciente disso. Os dados são do Grupo Unidos Venceremos.
Não custa lembrar que a hepatite C pode não apresentar sintomas por décadas e, não sabendo que receberam transfusão e fazem parte do grupo de risco, essas mulheres têm seu estado de saúde agravado a cada dia, sem nem desconfiarem disso. Foi submetida à cesariana antes de 1993? E sua mãe, foi? Que tal pedirem os exames de hepatite ao médico na próxima consulta?
- Outro perigo para as mulheres: salões de beleza. Quantas de nós levam seu próprio kit manicure ao salão? Observem que eu disse kit e não apenas alicate, o que inclui espátula, pauzinhos, esmaltes (já aproveite para levar a lixa também e evitar fungos). O vírus da hepatite C sobrevive até 72 horas fora do sangue e só é eliminado com a esterilização adequada: 170°C durante 1 hora completa, num equipamento perfeitamente regulado. Você confia que seu salão faz isso a cada cliente? Eu não. Por isso levo tudo. Pra que brincar com uma coisa tão séria, né? Leia mais sobre isso em: Hepatite no salão de beleza.
Só para lembrar de novo: a hepatite C é responsável pela maior parte dos transplantes de fígado no Brasil e no mundo, e muitas pessoas morrem na fila.
Fragilidade
Fala-se que as mulheres são o sexo frágil, mas encontro um problema conceitual aí: confunde-se sensibilidade com fragilidade, que são duas coisas diferentes. Ou, ainda mais grosseiramente, referem-se à menor força física em relação ao homem, mas uma rápida visita ao dicionário nos mostra que não cabe falar sobre fragilidade em oposição à força.
Na semana passada, em entrevista à Ana Maria Braga, a presidenta Dilma Rousseff disse algo muito significativo em relação a isso:
“Você já viu algum homem que chega à direção do país ser chamado de duro? É porque são homens. É esperado da mulher uma fragilidade fora do comum. A mulher pode ser fisicamente mais frágil, mas não necessariamente é menos forte do que o homem por dentro.” Dilma Roussef 01/03/2011
Sinceramente, considero impossível associar a palavra fragilidade à maternidade - incluindo a sala de parto, que muito marmanjo não consegue encarar nem como acompanhante. Depois disso, dispensam-se outros argumentos.
Força e coragem
Devido ao meu trabalho aqui no blog, acompanho o
tratamento de muitas mulheres com hepatite C e vejo como elas se desdobram para encarar os
efeitos colaterais dos medicamentos e continuarem sendo os pilares de suas famílias.
E mais: vejo mulheres que não têm hepatite C fazendo o tratamento junto com seus maridos e filhos, lado a lado, lutando, apoiando, incentivando. Ouso dizer que, em muitos desses casos, elas são o fator decisivo para a adesão ao tratamento.
Quero citar o exemplo da querida Eliane, que conheci no orkut e tive o privilégio de encontrar pessoalmente em uma das minhas viagens à Porto Alegre: uma leoa durante o tratamento da Nathi, sua jovenzinha e linda filha.
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Eliane comigo em 2009 (eu ainda abatida após fim do tratamento) |
Parabéns a todas essas guerreiras, que, como disse Cora Coralina, passam a vida removendo pedras e plantando flores.