Um dos vídeos vencedores do Concurso Um Minutinho - 2010
O carnaval está chegando e, nesta época do ano, intensificam-se as campanhas pelo uso da camisinha. Mas porque é necessário gastar tanto em campanhas se já estamos cansados de saber que o uso de preservativo é a única forma segura de prevenir doenças sexualmente transmissíveis?
A resposta é simples: porque mesmo sabendo disso, e mesmo não querendo adquirir doenças graves como Aids e hepatite B, muitas pessoas não usam camisinha em suas relações sexuais, fortuitas ou não.
Nosso amigo Plutonauta, observando a Terra lá de Plutão, deve ficar confuso diante desse fato curioso: se as pessoas primam pela manutenção de sua vida e se têm o conhecimento necessário para fazê-lo, por que arriscam-se dessa forma? É o que vamos discutir agora.
1. Falando a verdade: Usar camisinha é ruim
O médico infectologista David Uip, em entrevista à IstoÉ, faz uma afirmação forte, mas tão importante quanto verdadeira: usar camisinha é ruim, assim como usar droga é bom.Veja o que ele diz:
A Adriane Galisteu, que começou uma campanha beneficente, A Cara da Vida, para ajudar pacientes com Aids, fala uma coisa com a qual concordo plenamente. Temos que começar a falar a verdade. Camisinha é ruim. Droga é bom. Não adianta negar. Adriane diz publicamente que seu irmão morreu vítima da Aids e se contaminou com uso de drogas injetáveis. (Dias antes de morrer, o irmão da apresentadora pediu a ela que nunca experimentasse drogas, porque poderia gostar). Quando ela me contou desse pedido, inseri no contexto do que eu penso. Não venha dizer que camisinha é bom porque não é. E não adianta você dizer para um usuário de drogas que droga não é bom. É bom, mas mata, tenho que avisar. Sou visceralmente contra o uso de qualquer droga ilícita. Mas a conversa com a Adriane me fez refletir muito. Porque é verdadeira.Vou dizer para o usuário que não é legal ter barato? Ele vai dizer que eu digo isso porque nunca usei. Então temos que falar a verdade.
Se fosse bom usar camisinha, não precisaríamos de campanhas - convenhamos, nunca foram necessárias campanhas como "Coma chocolate" ou "Faça sexo".
Leia mais um trecho da entrevista com o Dr. David Uip:
Droga é bom? É, mas vai te matar. Camisinha é bom? Não, mas, se você não usar, pode morrer. Essa é a história. Não adianta advogar prazer, fetiche numa coisa que não tem. São situações desconfortáveis, mas necessárias. David Uip - leia a entrevista na íntegra.
2. Não usar camisinha é, culturalmente, uma prova de confiança
No início dos relacionamentos, o uso do preservativo é até um pouco mais aceitável. Mas o que vemos é, a medida que as pessoas vão tornado-se mais íntimas, confiando mais no outro e sentindo-se mais seguras na relação, geralmente adotam a pílula e abandonam o uso da camisinha. As perguntas que me faço (sim, me faço, pois também já fiz isso na vida algumas vezes) são:
Questão 1: A pessoa pode estar infectada sem saber
O fato de eu confiar no meu namorado ou namorada, de sermos íntimos e termos uma relação super legal, muda algo caso ele (ou ela) seja portador dos vírus HIV, HPV ou da hepatite B sem saber disso? Ele(a) não está me enganando. Ele(a) apenas não sabe. Pense nisso:
- 95% dos infectados com hepatite B no mundo desconhecem seu diagnóstico. Saiba mais.
- No Brasil, metade das pessoas infectadas com HIV nem imagina que tem o vírus. Saiba mais.
- Estudos no mundo comprovam que 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Saiba mais.
Motivo 1: Janela imunológica. Leia mais sobre isso aqui.
Motivo 2: Você confia na pessoa 100% a ponto de colocar sua vida nas mãos dela? - e esta é a nossa segunda questão.
Questão 2: Sobre traição
Você confia 100% em seu parceiro, a ponto de colocar sua vida nas mãos dele?
Estou até vendo os leitores românticos balançando a cabeça afirmativamente. Acho lindo. Mas preciso dizer: vocês não deveriam fazer isso.
Todos os seres humanos são falíveis. Todos podemos cometer erros. Às vezes agimos por impulso e, bem… todos temos hormônios. O mais perigoso deles chama-se testosterona.
Não vou aqui fazer aquela afirmação generalizada de que todos os homens traem, porque não acredito nisso. Mas também não sou ingênua: sei que todos os homens tem um potencial enorme para trair. E muitas mulheres também.
Tudo depende de uma conjunção de fatores e não entrarei nesse mérito, pois não sou especialista no assunto. Se quiser saber mais, confira o link ao final deste post.
As estatísticas mostram que é cada vez maior o número de mulheres casadas infectadas com o vírus HIV.
Momento puxão de orelha: homens, não estamos julgando vocês em traírem, mas será que dá pra colocar a mão na consciência e prevenir-se ao fazer isso?
Não só as casadas estão mais vulneráveis. O número de mulheres de 15 a 24 anos infectadas com HIV vem crescendo alarmantemente no Brasil. É por isso que a campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval 2011, lançada ontem, é voltada para o público feminino jovem.
A campanha tem vídeos sobre o antes, durante e depois do Carnaval. Um de seus pontos fortes é justamente o incentivo à testagem. Pena que a referência ao teste de hepatite apareça apenas na legenda (pôxa vida, hein @minsaude?), mas pelo menos aparece.
Olhando assim, nem parece que o nome do Departamento é DST-Aids e hepatites virais. |
Mas, críticas à parte, adorei a campanha.
Não precisa ser como a Lady Gaga e vestir-se toda de preservativo. Mas gente, precisa usar camisinha. Confiando ou não confiando no parceiro. Parecendo ele saudável ou não.
Fonte: Lady Gaga em seu traje de preservativo |
Espero que as gerações mais jovens não tenham o mesmo descuido que as nossas gerações têm, de modo geral, com o uso da camisinha. Queria que, para eles, a expressão “é como chupar bala com papel” fosse a coisa mais sem sentido do mundo. Mesmo porque, pra quem sabe fazer direitinho, camisinha não atrapalha em nada. ;)
Outras fontes de consulta: