Esse fim de domingo está sendo meio deprê. Ainda não consegui me recuperar de tudo o que aconteceu nos últimos tempos. O sentimento é muito estranho - um misto de fraqueza física e mental, tristeza, insegurança e enjôo (sim, sempre fico enjoada quando fico emocionalmente abalada). A última vez que me senti assim foi um ou dois meses depois de eu ter perdido alguém muito especial no acidente da GOL, em 2006. Continuo achando - e minha psicóloga concorda - que esse momento atual tem tudo a ver com luto.
Por mais estranho que possa parecer, foi mais fácil digerir o fracasso do meu tratamento do que os últimos acontecimentos no trabalho. Talvez porque o primeiro era esperado - indesejado e temido, mas ainda assim esperado. Mas descobrir que exisitia um "universo paralelo", que pessoas tentavam me prejudicar (e conseguiam) e que, por isso, os demais podem estar me vendo de outra forma... isso é bem difícil de engolir. Principalmente quando penso que tudo aconteceu enquanto eu lutava (e muito) pra me manter ativa apesar dos efeitos colaterais dos remédios.
E agora não sei o que as pessoas pensam, quem acreditou no quê. Sei que alguns vão dizer: danem-se as pessoas! Mas não é bem assim... não nesse momento frágil que estou vivendo.
O tratamento me trouxe muitos (e ricos) aprendizados. Aprendi (de vez) que não tenho super-poderes, a me amar e me cuidar mais, o quanto as pessoas podem ser solidárias e que tenho
amigos de verdade.
Mas também aprendi que o ser humano tem um discurso solidário, mas que em muitos a solidariedade acaba quando alguma coisa o incomoda ou segundo a sua conveniência - o que quer dizer que aquilo podia ser qualquer coisa, menos solidariedade.
A Adriana, amiga da comunidade do Orkut, escreveu hoje no
Cantinho da Drica, sobre o período de tratamento:
Tenham paciência, evitem trazer problemas desnecessários para os doentes e sejam solidários com ele, pois mesmo aparentemente o doente 'estando bem', só quem passa por isso para saber como ficamos no íntimo. Estou evitando ter muito contato com pessoas que não conhecem nada sobre a doença e não entendem o que estou passando. Já cansei de mandar muita gente ir tomar no c.... por me dizerem na maior cara-de-pau: Nossaaa, você está tão bem... Pelo que você dizia eu pensei que você estivesse 'morrendo'. Aiii que vontade que sinto de aplicar pelo menos uma dosezinha de interferon em cada um deles".
A verdade é que as pessoas não fazem idéia do sofrimento que é, tirando aquelas que já tiveram experiência semelhante, com quimioterapia por exemplo.
Eu devia ter colado a frase em negrito da Adriana na minha estação de trabalho ou na assinatura de meu email corporativo. Ou melhor, eu devia ter ficado de licença. Agora, já era... fui cair no discurso
pseudo-solidário de alguns.
Mas que fique claro: a maior parte dos meus colegas foi incrível comigo em todos os momentos e, a esses,
só tenho a agradecer. Em especial, à minha parceira Gislaine, que infelizmente não recebeu a recompensa que merecia por tudo o que fez naquela época (mas Deus, que tudo vê, mandou pra ela um presente que não se compara a qualquer outro tipo de recompensa).
Dá muito orgulho a gente olhar pra traz e perceber que, apesar de TUDO, conseguimos dar conta do recado. E, modéstia a parte, o tratamento pode ter reduzido muita coisa em mim, mas não a minha competência e as minhas realizações. Pena que tudo isso foi abafado pela maledicência. Mas o que magoa não é a falta de reconhecimento profissional: isso faz parte, acontece em todos os lugares, com qualquer um - não é pessoal. O que magoa é a forma que fui tratada, a falta de cuidado.
Dessa experiência tiro várias conclusões (no âmbito pessoal e profissional), mas a maior parte delas a ética me impede de publicar. Posso dizer apenas que preciso ter mais cuidado com as pessoas, porque nem todo mundo gosta da gente, mesmo que pareça gostar (alô?!? Bem-vinda ao mundo real!). Eu me acho muito esperta pra muitas coisas, mas confesso a minha ingenuidade pueril em relação às pessoas - eu devia assistir mais Big Brother pra entender melhor o que rola por baixo dos panos.
Meu ex-marido me achava o máximo (isso era tão legal!). Ele dizia que muitas pessoas não gostavam de mim porque eu era boa demais e "a luz ofusca as trevas" ou que causava inveja.
Meu marido atual
não me acha o máximo - sou uma pessoa comum, cheia de qualidades e defeitos como qualquer pessoa comum. Mas ele também acha que muitas pessoas não gostam de mim, por causa desse meu "jeito toda boazinha de ser". Ele diz que não acreditam na sinceridade de meus sentimentos e de minhas ações, e, por isso, acham que sou falsa e interesseira.
Nem 8 nem 80... mas acho que tá na hora de eu começar a ouvir as pessoas que me amam e aceitar de vez que muita gente não gosta de mim, mesmo que eu não tenha feito nada contra elas: simplesmente não gostam e pronto. E estão no seu direito.
O que eu não posso é permitir que elas tirem o meu direito de estar bem e isso depende só de mim. Como diria a minha ex-sogra (se bem que dizem que sogra é pro resto da vida, não existe ex): "Não dê poder pra quem não tem".
A começar por agora... vou dormir tranquila, sem pensar mais nesse assunto. Pronto, desabafei.