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domingo, 2 de março de 2014

"Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava" - Sério?


O assunto é polêmico e já foi discutido por aqui algumas vezes:



Foto: LeNair Xavier - Flickr



No final do ano passado, eu representei a AIGA no Fórum de Consulta Regional sobre a resposta brasileira à DST/AIDS e Hepatites Virais na Região Centro-Oeste, em Goiânia, junto com Carlos Varaldo do Grupo Otimismo. No grupo de discussão em que eu estava, lá vem o assunto sendo abordado de novo: "não sei porque as ONGs insistem que hepatite C não é DST, se o percentual não é 0, então é porque é" - alguém disse.  

Ok... não vou entrar no mérito da discussão mais uma vez. Hoje quero apenas refletir sobre matéria publicada na internet no mês passado, sob o título: "Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava"

Sério, às vezes eu leio algumas reportagens que me fazem questionar quem não sabe interpretar dados, se os repórteres ou se os próprios cientistas. 

Senão vejamos: está bem claro no texto que o estudo a que ele se refere foi realizado APENAS COM PORTADORES DE HIV.  Sendo assim, em hipótese alguma pode-se concluir que:

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença que mantêm relações sexuais. 

Isso porque, em Ciência, você não pode estudar um caso e induzir os resultados para os demais casos. 

O correto seria dizer: 

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença CO-INFECTADAS COM HIV que mantêm relações sexuais DESPROTEGIDAS. 


Desde 2005 que eu leio que o vírus da hepatite C pode ser transmitido RARAMENTE por via sexual e que isso se dá ESPECIALMENTE se houver uma outra infecção, como o HIV. Quer dizer, o HIV facilitaria a transmissão. O estudo em questão está confirmando isso. Mas não que o risco de transmissão da hepatite C SEJA MAIOR DO QUE SE PENSAVA. 

Isso me lembra uma pesquisa brasileira de 2010 que chegou à mesma conclusão com uma amostra de pessoas que declaradamente faziam sexo com muitos parceiros sem proteção, sem nem checar outros comportamentos de risco (além desse!), como uso de drogas e existência de outras doenças infecciosas. 

A matéria atual também fala que "os homossexuais parecem particularmente propensos a contrair esta doença por via sexual, embora os pesquisadores não sabem ainda qual é a razão. 'Uma explicação possível é que as relações sexuais por via anal aumentam a possibilidade de contato sanguíneo entre os casais', indicou Günthard."

Meu comentário: já foi comprovado por outros estudos com homens que fazem sexo com homens que isso não se verifica. Quando não há a infecção por HIV, a transmissão do vírus da hepatite C por essa via continua igualmente RARA.

Finalmente, eles dizem: 
Por enquanto, os pesquisadores não sabem se os casos de hepatite C transmitida por via sexual aumentaram em pessoas não portadoras de HIV 
BINGO! 

Mas o texto que segue justificando isso é uma mera hipótese, que não poderia nem mesmo ser formulada a partir desse estudo (e que, na minha opinião, nem se aplica): 
Isto acontece porque os pacientes com HIV se submetem a testes médicos regularmente devido a sua doença, por isso que é mais fácil detectar a hepatite C nestas pessoas, coisa que não ocorre com as pessoas que não são soropositivas. Nestes casos, a maioria desenvolve os sintomas da doença semanas ou inclusive meses após contrair a infecção. 
Na verdade, a maior parte dos infectados nem tem sintomas, diferente do que diz aí. E, além do mais, existem outros estudos que dão conta desse caso. 

Portanto, #fail total. 
Vocês viram que hoje nem estou discutindo se a hepatite C é ou não transmitida sexualmente. Apenas estou mostrando que isso não pode ser afirmado por meio do estudo em questão. 




Já que estamos falando novamente sobre esse assunto - e que estamos em pleno Carnaval, quando muitas pessoas ficam mais "liberadinhas" - vamos aproveitar para lembrar o post: 



Só para constar: ontem no meio da transmissão do carnaval de Salvador pelo SBT, o Ministro da Saúde Arthur Chioro falou sobre o uso do preservativo e a possibilidade de fazer o teste rápido de HIV e hepatites B e C em vários locais de festa pelo País. Curti! :) 

Foto: Paulo Mandarino/AgNews




Notícias / Ciência & Saúde


Risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava
03/02/2014 - 19:22


Cientistas suíços descobriram que ao risco de contrair hepatite C por via sexual é maior do que se pensava até agora, além de métodos como transfusão de sangue e troca de seringas com pessoas infectadas. O estudo, realizado a partir de uma base de dados de portadores do vírus da Aids (HIV), foi realizado pelos cientistas Roger Kouyos e Huldrych Günthard do Hospital Universitário de Zurique com o apoio do Fundo Nacional Suíço (FNS), segundo informou a organização através de um comunicado.

Os pacientes com HIV que têm um parceiro portador tanto do vírus do HIV e da hepatite C têm entre duas e três vezes mais possibilidades de se contagiar com esse tipo de hepatite do que outras pessoas soropositivas, segundo o estudo. Há alguns anos, se achava que a hepatite C era transmitida sobretudo por contato sanguíneo, mas os cientistas descobriram que cada vez mais pacientes homossexuais portadores de HIV contraem a doença.

Por isso, este estudo revela que o risco de contágio de hepatite C é alto não só entre toxicômanos que compartilham seringas, mas também entre pessoas portadoras da doença que mantêm relações sexuais. Este dado indica que "existem contágios de hepatite C sexualmente transmissíveis", comentou Kouyos.

Os cientistas compararam a estrutura molecular do vírus HIV em mais de 10 mil pacientes e 1.500 casais e acharam casos nos quais as sequências genéticas do vírus entre dois pacientes concordavam, o que levou à conclusão de que um tinha sido contagiado pelo outro.

Os homossexuais parecem particularmente propensos a contrair esta doença por via sexual, embora os pesquisadores não sabem ainda qual é a razão. "Uma explicação possível é que as relações sexuais por via anal aumentam a possibilidade de contato sanguíneo entre os casais", indicou Günthard.

"As pessoas portadoras de HIV e hepatite C não deveriam ter relações sexuais sem proteção", acrescentou. Por enquanto, os pesquisadores não sabem se os casos de hepatite C transmitida por via sexual aumentaram em pessoas não portadoras de HIV.

Isto acontece porque os pacientes com HIV se submetem a testes médicos regularmente devido a sua doença, por isso que é mais fácil detectar a hepatite C nestas pessoas, coisa que não ocorre com as pessoas que não são soropositivas. Nestes casos, a maioria desenvolve os sintomas da doença semanas ou inclusive meses após contrair a infecção.

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