Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pneumonia e hepatite C

Hoje recebi cópia dos prontuários de minhas quatro internações hospitalares na infância. Registro aqui a rapidez e eficiência do hospital São Lucas da PUC em atender ao meu pedido.

Todas elas foram por problemas pulmonares, a primeira aos 5 anos (há 26 anos atrás) e a última aos 12. No total, foram duas cirurgias. Numa dessas "hospedagens", durante uma transfusão de sangue, contraí o vírus da hepatite C (estranho que não encontrei menção à transfusão no prontuário ou, pelo menos, eu não soube identificá-la).

Ainda terei a oportunidade de contar pra vocês sobre essas experiências, principalmente a de 1986, quando tinha 8 anos: pneumonia causada pela bactéria Staphylococcus aureus (claro que eu tinha que escolher uma bactéria dourada). Olha a foto dos bichinhos aí ao lado.

Um dos médicos chegou a dizer para minha mãe que eu ter sobrevivido foi um milagre - concordo plenamente, mas faz parte desse milagre a competência da equipe médica.

Quero aproveitar para agradecer, mais uma vez, ao Dr. Renato Stein (meu pediatra) e ao Dr. Cyrus (cirurgião pediátrico).

Não gostaria de ser injusta, mas seria impossível lembrar do nome de toda a equipe, que sempre foi tão carinhosa. Além do Renato, tinha a Margareth, o Kipper, um outro pediatra que eu só me lembro como "o médico bonito" (minha mãe acha que ele se chamava Paulo) e a enfermeira Perosa.

Devorei as 100 páginas dos prontuários em poucos minutos. Chorei algumas vezes. Primeiro, e principalmente, por pensar no sofrimento da minha família.

Depois, por reviver aqueles 42 dias de hospital em 86. Tenho tantas cenas gravadas na minha mente! Por exemplo, quando a médica escreve que demonstrei medo quando fui informada da punção lombar que faria no dia seguinte. Mas, convenhamos, quem não teria medo? Dá uma olhadinha aqui como é.

Me lembro da punção, me lembro do medo, me lembro da dor que era só de ficar na posição necessária. Mas também me lembro o quanto fui corajosa nesse dia - e em todos os outros.

Tá vendo, já estou chorando de novo... porque ô guriazinha porreta que eu fui!

Eu falei pra minha mãe que não a deixarei ler o prontuário, porque as palavras por si só, mesmo na fria linguagem médica, já evidenciam a gravidade da situação, já mostram o sofrimento pelo qual passei, tão pequenina - passamos todos.

Que tal: "Piora importante, comprometimento quase total do pulmão esquerdo, com atetectasia e derrame pleural", "dor", "drenagem de secreção sanguinolenta", "dor", "surtos psicóticos", "dor", "febre que não cede com os medicamentos", "dor" etc.

Acho que é por isso que estou lidando bem com a hepatite C agora.
Porque já passei por coisa muito pior.

Mas, acreditem, o hospital é uma lembrança boa para mim. Claro que ficaram alguns traumas - graças a Deus, não fiquei com nenhuma das inúmeras seqüelas possíveis - mas no geral é uma lembrança muito positiva: as pessoas (familiares, amigos, médicos, enfermeiros), as situações, as histórias (quantos livros me foram lidos naqueles 42 dias!), os presentes, o pão de queijo da lanchonete, as brincadeiras...

E eu que achava que minha memória era ruim! Vocês não imaginam o filme que passou agora na minha cabeça.

Filme bom, com final feliz.

Hepatite C é só um "detalhe", pra não deixar o final da história monótono (ou pra eu continuar sendo muito mimada - adoro essa parte).





1986 - Festa na AABB Porto Alegre em comemoração à minha volta pra casa do hospital.
O que eu falava mesmo sobre ser mimada???

domingo, 20 de setembro de 2009

Pequenez

Durante o tratamento, me comprometi a me preservar. Parar de assistir televisão foi uma das coisas que fiz nesse sentido.
Não vou entrar no mérito dos prós e contras da programação televisiva. Apenas vou dizer que foi um recurso muito válido naquele momento. Acabei me acostumando e agora raramente assisto TV.

Por que estou falando isso? Porque o último post foi suscitado por um documentário que assisti no History Channel e, adivinhem? Este também.

Não dava pra deixar passar... sexta à noite me interessei por um documentário sobre a África que meu marido estava assistindo. A partir daí, foi uma enxurrada de sentimentos (e lágrimas). Me peguei pedindo desculpas a Deus por aquilo, porque sim, todos nós somos responsáveis.

O documentário Blood Diamonds mostra os 10 anos de guerra civil em Serra Leoa, com cenas reais e relatos das vítimas. Eu, na minha ingenuidade cor-de-rosa, fico me perguntando como é que se permite que uma coisa absurda dessas aconteça? E, o que é pior, que dure 10 anos??? Eu simplesmente não acreditava no que estava vendo.

Não vou falar dos fatos.
Não vou descrever as cenas.
Só vou dizer que, antes do documentário acabar, eu tirei do dedo meu anel de brilhantes e até agora não consegui colocá-lo de novo.

"Você paga o preço em dinheiro, tem gente que paga com a vida".

E aí o que eu havia escrito no último post é reforçado: pra que sofrer por coisa "pequena"?

Meu pai esteve em Brasília no final de semana passado, para a festa de dois anos da minha linda Amanda (parabéns, florzinha da mamãe!). Na volta à Recife, onde mora, me mandou um email com o seguinte trecho: "Te senti muito cansada, um pouco desanimada. Surpresa, já que você é sempre tão alegre e ativa. Entendo suas razões, mas sempre é tempo de dar a volta por cima (...)"

Surpresa fiquei eu, que nem ao menos consigo me perceber diferente. Mas quando comentei com uma das minhas irmãs, ela disse que todo mundo repara o quanto estou "triste" - não me lembro bem o termo que ela usou.

Eu não quero estar assim! Fico com medo de entrar em depressão (só quem já passou por isso sabe o medo que dá a possibilidade de ficar deprimida de novo).

Já estou conseguindo trabalhar bem as coisas dentro de mim. Até nem dói mais. Então por que isso ainda está no meu semblante? Dano moral, com características de assédio? Não importa, porque não quero mais saber! Eu tenho é que cuidar do meu fígado!

É verdade que estou cansada. Espero que nas minhas merecidas férias mês que vem eu consiga recarregar as energias que estão me faltando agora.
E esquecer o que não vale a pena ser lembrado...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de Setembro

Há oito anos, um atentado terrorista derrubava as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque, matando milhares de pessoas. Saiba mais.

Ideologias a parte, não há como não ficar tocado acompanhando ao vivo quase duas horas de agonia, que culminaram no desabamento dos dois prédios de 110 andares. Lembro como se tivesse sido ano passado.

Se o 11 de Setembro de 2001 mexeu muito comigo, o 11 de Setembro de 2009 também. Na verdade, tudo começou um pouquinho antes, no último final de semana. Vou contar para vocês...

Sábado levei minha filha ao Jardim Botânico de Brasília para um gostoso picnic com seus amiguinhos. Lá tivemos a oportunidade de conhecer a árvore que meu ex-marido-príncipe-encantado ganhou por ter sido, infelizmente, uma das vítimas do acidente com o avião da GOL em 2006.

É sempre difícil perder alguém que amamos. E perder alguém tão brilhante, tão cheio de vida, faz a gente repensar cada minuto que vivemos (ou deixamos de viver).

Ali levei a primeira chacoalhada: "ei, você ainda está sofrendo por coisas tão pequenas?" Tá certo, não foram coisas tão pequenas assim que me aconteceram nos últimos tempos, mas na frente daquela árvore, a única coisa que não ficou pequena foi essa guriazinha linda que vocês estão vendo na foto.


Foi um feriadão bem agitado, com direito a musical A Bela e a Fera e a desfile de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, de camarote, com Esquadrilha da Fumaça e tudo (eu que tirei a foto ao lado).

Mas a emoção mais forte veio no finalzinho do feriado, quando assisti no History Channel o documentário "102 dias que mudaram o mundo", sobre o atentado do World Trade Center. É forte: mostra minuto a minuto o que aconteceu desde o choque do primeiro avião com a torre, com imagens gravadas pelas pessoas que estavam lá nos arredores. Dá pra sentir o pânico das pessoas, o desespero. Sofri com elas. Mais uma vez.

Qual a cena mais tocante?
- Seria, sabendo o que aconteceria depois, ver as pessoas acenando nos andares de cima, pedindo socorro durante mais de uma hora?
- Assistir outras caindo em queda livre de uma altura de mais de 100 andares, como se fossem bonecos?
- Ou o desespero daqueles que acompanhavam tudo de prédios vizinhos, sem saber ao certo o que estava acontecendo, querendo proteger suas crianças?

Sou uma pessoa que me envolvo demais com as coisas, tenho uma grande capacidade de me identificar com as pessoas, de sentir com elas os seus sentimentos. Essa empatia pode ser uma qualidade ou defeito, depende de como for encarada. Se, por um lado, me faz sofrer muito (um dos motivos pelos quais me dou o direito de não assistir mais jornais), por outro me proporciona alegrias imensuráveis.

Mas o fato é que todas aquelas cenas foram me envolvendo, me despertando sentimentos, enchendo meu coração de algo que não sei descrever. E tudo isso teve o pico num momento que pra mim agora se tornou simbólico: a queda das torres.

Quando aquele primeiro monstro de concreto veio abaixo em poucos segundos, como se estivesse sumindo no ar, desapareceram empresas e suas muitas coisas importantes/urgentes/inadiáveis/intransferíveis. PUF! Sabe aquela história de que tudo o que é sólido se desmancha no ar? Pois é, nada mais era importante, urgente, inadiável ou intransferível. Não era mais absolutamente nada. Virou NADA. Quantos sonhos, amores, mães, pais, filhos, projetos de vida e pessoas que poderiam mudar o mundo se perderam em meio aos escombros?

As torres "desintegraram-se" e, dessa vez, assistir aquela cena fez com que algo desmoronasse também dentro de mim. De repente, aquela nuvem de fumaça, escombros e cinzas que engolia Manhatan na queda de cada uma das torres, como num filme de terror, me fez engolir seco e, enfim, sentir que não vale a pena sofrer por coisas tão pequenas. Saber disso eu já sabia, mas sentir é outra coisa bem diferente.

O que venho passando há quase um ano tem sido bem duro, não dá pra subestimar os fatos. Mas pode se tornar pequeno dependendo do referencial...

... pequeno diante do vazio onde antes existiam dois monstruosos prédios.
... pequeno diante de uma pequena árvore no Jardim Botânico.
... pequeno diante da pessoa que eu sou.

Pequeno.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Lembranças

Hoje é dia 09/09/09. Um dia como outro qualquer, apesar do gostinho de "dia especial".

De repente, me veio um flash do dia 08/08/88, anunciado na época como "o dia mais feliz do ano". Eu tinha 10 anos e me lembro do tempo nublado de Porto Alegre, jogando "5 corta" no campão atrás do ginásio do Colégio Cruzeiro do Sul. Também foi um dia comum, mas ficou marcado de alguma forma, talvez por eu ter esperado até o último instante por alguma notícia que faria dele o esperado dia mais feliz do ano.

Minha memória não é muito boa. Me angustia saber que tantas coisas que vivo ficarão perdidas no limbo da minha mente; muitas nunca mais serão acessadas. O dia de hoje, por exemplo, provavelmente será mais um que não será lembrado.

Acho que é por isso que eu amo tanto fotografias. Elas me fazem lembrar pessoas, situações e reviver sentimentos. Muitos sentimentos.



Essa é dos meus 10/11 anos. Provavelmente não tenha sido tirada em 08/08/88, mas foi por aí... Bonitinha, né?

(ah, naquela época, eu já tinha o vírus da hepatite C, sem saber)