Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Hepatite C, preconceito e A Feiticeira



Tenho falado muito sobre preconceito. Mas não tem jeito, ele está em toda parte.

Está na fala do renomado jornalista, no meu time do coração, no entretenimento do povo, no discurso de meus primos adolescentes sobre negros e homossexuais (#triste).
Ele aparece pomposo na boca de quem rotula nosso Presidente da República como ignorante, como fez Caetano, e por aí vai.

Como já disse em outra ocasião, o preconceito está dentro de cada um de nós, em diferentes níveis, de diferentes formas, por diferentes coisas.
Que atire a primeira pedra quem nunca teve um.

Esse é um assunto recorrente nos comentários que os leitores fazem aqui no blog. Ninguém quer ser rotulado ou tratado de forma diferente. Medo de sofrer preconceito é algo natural.

Ao fazer o tratamento da hepatite C, muitos preferem que as pessoas pensem que é câncer, porque ao invés de preconceito, desperta compaixão.

Minha reflexão sobre o tema ganhou forças com a recente incorporação do Programa Nacional de Hepatites Virais ao Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde - agora, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.

A primeira coisa que me passou pela cabeça quando li a notícia foi: "Nããããããããããão!!!"
Assumo, preconceito puro.

Resumo do pensamento:

Pra que misturar hepatite C com DST e Aids?
Em primeiro lugar, hepatite C não é uma doença sexualmente transmissível. Ponto. (O fato de eu ser tão enfática não desvelaria um preconceito contra DSTs???)

Mas o principal: no Brasil, de forma geral, as pessoas associam a hepatite C com a "inocente" hepatite A e não com o "temível" e "mal visto" HIV. Acredito que o preconceito seja minimizado por causa disso.

Por exemplo, num filme brasileiro não teríamos a seguinte piadinha infame de A Feiticeira, o Filme - The Bewitched (2005).

Explicando o contexto:
A bruxa enfeitiça as mulheres-alvo do velho-bruxo-babão, fazendo com que elas falem verdades para que ele se desinteresse delas.
A primeira "vítima" começa a tagarelar que na manhã seguinte não teria entendido 90% das piadas do corôa e falaria sem parar do sonho de abrir uma academia blá blá blá.
Com a segunda, o desinteresse é mais fácil e imediato: ela só abre a boca e diz que tem hepatite C.

Veja a cena:



Mas voltando ao Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais...

- Como ser humano provido de razão, aproveito a oportunidade para refletir sobre meus preconceitos e desconstruí-los.

- Como incansável otimista, prefiro olhar o lado bom da coisa: como serão as campanhas de hepatite agora com a experiência e competência - incontestáveis - das campanhas de Aids? Não temos muito a ganhar?

- Como educadora crítica, percebo também que, até agora, parece que a única coisa que mudou foi o nome do departamento (isso fica claro observando o site e foi evidente nas falas do Enong - como se houvesse ocorrido apenas uma junção, faltando ainda uma integração de fato). Mas dou a eles meu voto de confiança.

O que mais sabemos sobre preconceito?
Transcrevo as palavras de Carlos Varaldo, do Grupo Otimismo, no artigo As campanhas informativas das hepatites devem ser monotemáticas ou em conjunto com outras doenças?

  • A divulgação de estudos informando que a hepatite B é muito alta entre os imigrantes resulta em situações de alta discriminação nesses grupos. Em países da Europa e até nos Estados Unidos os imigrantes são acusados de "importar" a hepatite B, existindo projetos de lei absurdos, como o de não outorgar residência aos infectados.
  • Alguns países árabes expulsam estrangeiros infectados com AIDS ou hepatites e semana passada [notícia de 14/12/2009] o governo do Catar aprovou uma lei que obriga a realização de testes de AIDS e hepatites antes do casamento e, caso um dos noivos seja positivo estará impedido de ter filhos.

5 comentários:

  1. Tenho 40 anos, 23 anos de casada, 3 filhos, em janeiro de 2009 fui doadora de sangue voluntária no Hemonúcleo da Santa Casa, Minha surpresa foi grande ao descobrir através dos exames que tinha Hepatite C há vários anos e não sabia. Na ocasião eu não tinha idéia do significado dessa doença, assim como muitas pessoas não tem a menor idéia do que seria no meu caso tinha nome: vacina de revólver (que eram administradas em filas nas escolas) Hoje tomo Interferon 1 vez por semana que é usado no tratamento de quimioterapia 4 comprimidos de Ribavirina por dia e 3 injeções por semana para anemia,perdi meu cabelo, e isso só as mulheres imaginam o que significa. Meu marido é doador há mais de 10 anos e graças a Deus nem ele e nem meus filhos foram infectados.
    Sei que tudo isso vai passar e que o tratamento vai acabar e que Deus me carrega em seus braços a todo momento, pois somente sentindo essa força estou em pé.

    Não escrevo esse depoimento com intuito de assustar ninguém e sim tentar fazer um alerta para que as pessoas façam exames para detectar hepatite, e para expressar minha indignação de não ser pedido esse tipo de exame quando se faz uma consulta
    PRECONCEITO E FORÇA
    Do tratamento já é muito difícil, pois com todos os efeitos colaterais que sinto, ainda tive a grande decepção de ver se afastar de mim algumas pessoas que, quando eu estava bem se diziam “amigos”, hoje vejo que não eram, que forma ruim de conhecer as pessoas.
    O preconceito é uma outra doença que infelizmente ainda existe, pois estive em um hospital da cidade e fui muito discriminada por uma enfermeira que me disse que era muito perigoso para ela estar ali cuidando de mim, que ao meu ver por trabalhar na saúde tinha que ter mais informação sobre o assunto e não simplesmente julgar as pessoas, pois o trabalho de um funcionário da saúde é zelar pelo bem estar de seus pacientes. Mágoas a parte, se até meus “amigos” se afastaram o que dizer de uma estranha com toda sua ignorância. por que pensão que pega e não pega!
    Ouvi certa vez de uma amiga que não me deixou, a seguinte frase:
    A doença incomoda e ninguém tem a paciência de conviver com alguém assim, só a família, e as vezes nem isso.

    Eu então me considero uma pessoa de muita sorte porque não fui deixada de lado pela minha família e também por ter ido doar sangue pois se não tivesse ido até hoje não saberia que tinha a doença e as conseqüências poderiam ser terríveis.

    Mesmo nos momentos ruins há algo de bom para se ver.

    Gostaria de agradecer a algumas pessoas que são importantes para mim, a minha filha por ter cuidado de mim com tanto carinho como se fosse ela a mãe e eu a filha. Aos meus filhos que sempre estão ao meu lado me dando força, e a minha mãe por ter me pego no colo nos piores momentos, a minha irmã pela força sempre me mostrando uma luz no final. E ao meu marido por ter sido a força que eu preciso e por me amar tanto e por me deixar sentir esse amor.

    Enfim a minha família e aos amigos que ficaram e ao Dr. Hamilton Bonilha que tem me tratado com todo carinho e que tem em sua profissão o amor as pessoas, tão raros nos dias de hoje.

    Hoje em dia minha vida se resume a uma grande superação.
    desde ja agradeço
    Dioneia Aparecida Delgado Lima
    ne_ia_d@hotmail.com

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  2. Dioneia, obrigada por compartilhar sua história conosco.
    Força no tratamento!!!

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  3. Olá Flor, leio sempre que posso tudo o que escreves. Gostava de aproveitr e ligar o preconceito à deficiente informação, muitas vezes por essa própria informação não estar suficientemente clara. O HIV e o HCV são vírus, precisam entrar no nosso organismo. Depois de entrarem não poderemos nunca garantir de que forma o fizeram. A Hepatite C é sexualmente transmissível! Tal como o HIV! É transmissível de mãe para feto na mesma percentagem que o HIV, e morre muitíssimo mais gente devido ao vírus HCV do que do HIV.

    Preconceito? Nenhum! Um beijinho grande!

    (passaram dois meses depois do final do meu tratamento, o meu cabelo já está a crescer, a anemia passou e o vírus continua indetectável!)

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  4. Não é a primeira vez que vejo comentários em filmes, referindo-se à HCV.Lembro-me de que ao assistir um filme , em um grupo de jovens, o diálogo era sobre quem era a preferida ou "charmosa"(para não dizer gostosa) para eles.Nomes foram citados,até que um deles disse :Pamela Anderson!. No mesmo momento, os outros, com cara de poucos amigos, dizem: é...mas ela não! Tem hepatite C...
    Naõ gostei, não achei apropriado o comentário em um filme e da maneira como foi feito.Puro preconceito.Com certeza, a atriz não gostou disso.
    Não pelo fato de ser portadora de HCV mas sim de doença ser usada para causar afastamento, discriminação .
    O mesmo acontece na rápida cena da série "A feiticeira" Para afastar "um cara", a garota diz que tem HCV !Por que razão ?
    Com certeza, não é uma maneira de divulgar a doença, pelo contrário, divulga a discriminação contra ela!
    Há muito chão, muito ainda a fazer por uma divulgação correta sobre a prevenção, maneiras de infecção/transmissão , etc...que distinga a hepatite C das DSTs, da Aids e das próprias ( outras ) hepatites.
    abraço!

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  5. Oi Ana, aqui é a Bia novamente! Então, veio bem a calhar sua postagem sobre a junção dos departamentos de DST/AIDS com as Hepatites. Aliás, no dia em que iniciei o tratamento estavam atendendo justamente dois médicos, um hepatologista e outro infectologista, logo dá para sentir um certo "climão" já na sala de espera, onde ninguém sabe se o fulano que está do seu lado tem HCV, HBV ou HIV? O gelo só foi quebrado quando um senhor mais extrovertido que tem HIV resolveu puxar assunto e disse que só de entrar naquele departamento as pessoas de fora já nos viam com discriminação.... e eu me senti incomodada com o comentário dele e disse (sei que é preconceito inrustido, admito) que o nome do departamento demonstrava preconceito com quem tinha Hepatite, logo querendo deixar claro que estava ali por outro motivo que não o dele... Por outro lado, conheço uma senhora que tem o HIV há alguns anos, e já fazem dois que o vírus está indetectável, logo não entendo porque no caso da AIDS não existe sequer a possibilidade do uso da palavra "cura" se uma pessoa fica sem o vírus por tanto tempo na circulação, enquanto que o mesmo prognóstico no caso de quem tem/teve Hepatite é considerado cura da doença? É temos muito que aprender ainda como seres humanos, inclusive tem uma frase que eu sempre uso: Não existe pessoa saudável, é você que não foi examinado direito (???)
    Logo, antes de pensar em ter preconceito com alguém precisamos ter certeza de que nós mesmos não temos alguma doença grave ou contagiosa... Enfim, também admito que vai demorar algum tempo ainda para eu me acostumar a entrar naquele departamento e não ficar desconfortável pensando no que os outros estão pensando que eu fui fazer lá (de novo?)! Boa reflexão a sua, espero que as campanhas educativas aumentem e atinjam cada vez mais pessoas, sem preconceito de preferência!

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