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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cuidado com o que você deseja: as mulheres e Edward Cullen

O que pode haver de tão interessante numa história adolescente capaz de criar tamanha euforia?

Claro que já tivemos outros grandes sucessos teen na história, como Harry Potter.
Mas agora temos um elemento interessante a analisar: mulheres de 20/30/40 anos suspirando como bobas por causa de um vampiro adolescente? Opa, o que está acontecendo?

Uma história fascinante? Uma escritora incrível? Algum debate socio-histórico-filosófico-cultural inquietante? Não, não e não.

A história é até criativa, mas, convenhamos, o livro parece escrito por uma adolescente - diálogos pobres e falta de profundidade (por favor, adolescentes, não se sintam ofendidos pela minha generalização simplista). Mas numa coisa Stephenie Meyer é mestra: prender a nossa atenção e fazer-nos devorar as páginas. É uma leitura meio viciante.

Provavelmente você deve ter percebido que fui uma das mulheres de 30 que devorou os livros da série.
Confesso: culpada por suspirar pelo vampiro adolescente (claro que não me juntei aos gritinhos histéricos no cinema e coisa e tal). Mas admito o fascínio.

Eu, que gosto de refletir e racionalizar, tenho a minha teoria.
É o próprio Edward que explica à Bella que é o caçador mais perfeito da natureza, já que tudo nele atrai a presa: a aparência, o cheiro etc etc etc. Mas tem uma coisa que eu acho que é a chave da histeria feminina: a personalidade.

Por mais modernas, resolvidas e independentes que sejamos, no fundo no fundo a gente deseja um amor como esse. Um homem que nos acha a pessoa mais linda e interessante da face da terra, que acha nossos defeitos divertidos, que nos deseja acima de tudo - um desejo que é físico, emocional, espiritual. Um homem que é capaz de um sacrifício por nossa causa, que está sempre ao nosso lado e pronto para nos defender desse mundo insano que vivemos. E que tal um relacionamento como aquele? Cumplicidade, compreensão, diálogo... Edward e Bella nem precisam mesmo ler o pensamento um do outro, porque já sabem como o outro pensa. Se conhecem. E amam incondicionalmente o que conhecem.

Tudo muito lindo e romântico, mas vou dizer uma coisa: NADA SAUDÁVEL.

Eu já tive meu Edward Cullen. Fui casada com ele durante quase 6 anos.
E me separei (por minha iniciativa) amando-o tanto que achava ser incapaz de sobreviver sem ele.
Ele era minha vida, meu ar, meu chão.

Sabe aquele casalzinho modelo, alvo de admiração e inveja, que é feliz como as pessoas julgam que jamais poderiam ser? Pois é, éramos nós.
Eu tinha o meu "príncipe encantado" e me sentia a pessoa mais especial da face da terra. Ele fazia com que eu me sentisse assim. Eu me via assim nos olhos dele.

Eu não tinha o que temer, nem tinha o que mais querer.
Vivíamos uma vida de privação financeira, mas nada daquilo abalava o que sentíamos um pelo outro. Um amor e uma cabana.

Tudo era "tão perfeito", "tão perfeito", que minha psicóloga só foi notar que havia algo errado depois de um ano de terapia. Qual era o problema?
"Uma só carne".

Diria John Lennon:

"Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada 'dois em um': duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável."

É claro que não quisemos nos anular.
Mas é isso o que acontece. Tão gradual e silenciosamente, que quando vemos: Ops! Não existe mais um "eu" sem aquela pessoa.

E é assim que Bella decide abrir mão de sua própria vida (e talvez de sua alma, não se tem certeza) para ficar a eternidade ao lado de Edward. Até a morte parecia não ser suficiente - e eu digo a vocês que entendo perfeitamente.

Foram anos de terapia até compreender que o vazio existencial que eu vivia, a depressão que me assolava, não era só um problema genético como eu achava.
Era o reflexo da perda de mim mesma.
Chegou o momento da escolha e eu, sangrando, fiz a opção por mim.

Virei um "anjo caído".
Humana, falível, normal. Digamos que fiz o caminho inverso da Bella.
Não me arrependo, por mais doloroso que tenha sido.

Porque se tem uma coisa que pode ser melhor do que amar e ser amada por um "Edward Cullen", é amar e ser amada por si mesma na mesma intensidade.
Eu não tinha idéia do que significava AUTONOMIA.
Eu não imaginava que conseguiria me sentir mais feliz do que era naquela época, mesmo não tendo todas as minhas necessidades afetivas supridas.

É por isso que eu alerto: cuidado com o que você deseja.
Lendo vários trechos de Eclipse e Amanhecer eu revivia situações e identificava algumas "ciladas".
Não quer dizer que você não possa sonhar com seu Edward. Mas se encontrá-lo, não faça como Bella (nem como eu):  nunca abra mão de você mesma.

E se não encontrá-lo, dê de ombros. Fala aí, John Lennon:


"Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.
Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém"


PS: Em 29.09.2006, meu "Edward" André Luís se foi no acidente do vôo 1907 da GOL.
Já estávamos separados há dois anos, ambos no segundo casamento, mas ele continuava sendo meu melhor amigo. Ninguém nunca me entendeu como ele.
Me senti a viúva no seu enterro.
Eu era viúva no coração.
Não achei que pudesse seguir em frente. Sentia que não sobreviveria à sua partida.
Mas sabem por que eu sobrevivi???
Porque, dessa vez, eu tinha a mim.

Um ano depois, nascia minha linda Amanda. A vida continua...

19 comentários:

  1. Oi amiga,
    Que texto lindo, escrito com o coração, com a voz da experiência de quem já teve o seu Edward... Acho q se soubessemos antes o que sabemos hoje como teriatudo sido difernte né? :/
    Mas, Deus tem os seus propósitos e com ele a verdade de que somos seres incomletos em busca de nos tornasmos pessoas melhores... Acho q o André, onde ele estiver, vibrou com a sua demonstração de amor...
    Um grande beijo

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  2. Hahahahaha... QUE post! =D
    Ah, mas eu faria o caminho mais fácil sem sequer pensar!
    Teoricamente.
    Porque essa história de eternidade me assusta um pouquinho (Muito!). E matar animais. E ver minha família morrer à minha volta. E não precisar mais dormir. E não comer picolé de limão em dias quentes...
    Bom, mas se a eternidade durasse apenas quatro livros, essa "anulação" toda certamente valeria muito a pena!
    Na vida real, eu escolheria o outro, quente e completamente apaixonado. Em alguns momentos, teria um lobo enorme para abraçar; noutros, um índio lindo e forte que me diria "que quowle" antes de me beijar. Ai, ai.
    QUE realidade!
    Mas por que é que mulheres de 30 anos suspiram feito bobas por essa história mesmo? Esqueci!



    Saudade do seu Edward Cullen...

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  3. Poxa, acabei de comentar no blog da sua amiga quanto a esse texto, rs. Vou colar aqui o que comentei lá:

    Que texto ótimo o da sua amiga! Eu já estava começando a achar que era a única que pensava isso, rs. Até porque as de 30/40 que foram citadas no texto e suspiram por um Edward têm uma maior experiência e maturidade pra perceber essa anulação toda que existe no relacionamento Bella/Edward. Mas o que mais me assusta é que as "teenies" de 12/15 anos que viciam em Crepúsculo realmente dariam um braço pra ter um relacionamento como aquele. E não é exatamente o melhor exemplo a se ter, eu acho. Nessa idade acho que as personalidades ainda estão tão em formação... E é uma pena que elas tenham como "ideal de relacionamento perfeito" e "ideal de homem perfeito" essa imagem irreal e não muito saudável. Acho que vão ter muitas decepções. :\ Seja como for, adorei demais o texto! :)


    E, bem, esteja aonde estiver o seu Edward, tenho certeza que ele deve ter ficado muito honrado com esse post, viu. Beijos!

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  4. Lindo seu post, aninha... O bom da vida real é que não tem idealização não. Temos que viver a vida, e é a nossa mesmo, porque é a única que temos.
    Mas sobre o edward, eu nem tchum pra ele nem pra história. E isso é uma novidade, pq quando eu era adolescente, adorava essa história de vampiro, etc. minha música favorita era doce vampiro e eu ficava imaginando aquela dominação vampiresca romântica...

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  5. hello... hapi blogging... have a nice day! just visiting here....

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  6. Acho que todas nós em algum momento da vida fomos ou ainda somos a Bella. Amamos ... e abrimos mão de nós mesmas, de nossas vontades, desejos e objetivos por nosso amado Edward. Para deixar de ser uma Bella, precisamos ter muita, muita coragem. Coragem para abrir mão da vida eterna. Vida eterna? Eterna de quem? Só se for do belo Edward, pois a Bella há muito deixou de viver...
    Queremos mesmo é sermos felizes por nós, queremos mesmo é viver a nossa vida, partilhada com o amado.
    Ouvimos muito: "A metade da laranja"; "Duas metades que se encontraram e transformaram-se em um"...
    A poxa! Somos um - um inteiro, um ser individual, que ao encontrar o outro "um", o outro inteiro, serão dois inteiros.
    Fica com Deus amiga, és uma pessoa muito especial.
    Beijinhos
    Eliane

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  7. Oi Ana!
    Estou muito feliz porque agora que vc mudou o domínio do blog posso acessar do meu trabalho. Antes era bloqueado...

    Adorei esse texto! Achei fantástico o que falou sobre o amor próprio e sobre as armadilhas do amor. O texto ficou 10. Envolvente e emocionante.

    Estava com saudade de ler seu blog. Como é bom estar por aqui novamente.

    Beijim
    Carol

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  8. viver sempre, desistir nunca20 de fevereiro de 2010 às 12:16

    Eu, e os outros Edward, descobrimos essas coisas antes. Que bom que o Mundo evolui. Aninha, achei fantástico o novo formato do site e incrivel a lucidez do seu texto. Chega a ser um tanto pertubador em determinados momentos. Parabéns, você realmente é ótima.

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  9. Amei a forma singela, dinâmica e verdadeira como você escreve e as relações que você estabelece são ótimas. Beijo.

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  10. Agradeço pelos comentários!
    Esse é um assunto especial pra mim e é muito legal receber o retorno de vocês.
    Beijos!

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  11. Que lindo!
    Muitas vezes é preciso se perder para poder se encontrar.Mas eu espero que tanto vc como ele, tenham encontrado a sua paz e onde quer que ele esteja, tenha encontrado muita luz.Bjs, Flávia Cabral

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  12. Não consigo definir qual o ponto do texto que mais me tocou. Não saberia dizer também em qual trecho o que penso, sinto e faço foi abalado... Na verdade, não sei nem o que dizer para você dado o contexto em que este post chegou a mim...
    Obrigado pela leitura, Ana, obrigado mesmo.

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  13. Texto profundo né! RS
    Recentemente escrevi no meu blog algo sobre reciclagem. Não de lixo, mas sim, de pessoas, situações. Me identificou com seu texto, tinha em mente algo assim mas, acabou saindo outra coisa RS.
    Adorei seu texto viu. Realmente, já pensamos em sacrificar algo importante para nós em nome da pessoa amada, ou obcecada, se assim pode-se dizer, por que muitas vezes já deixamos de amar RS, nos sentimos seguras ao seu lado. A questão é: o que sacrificar? vale a pena?
    Abraços

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  14. Se o homem tem defeitos, a mulher fica ao máximo tentando mudar ele, um dia cansa e larga ele.

    Se ele é perfeito, a mulher fica deprimida, um dia cansa e larga ele.

    Vão me chamar de machista ou insensivel, mas é um fato: Nem as mulheres conseguem entender a si mesmas

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  15. Parabéns pela escolha. Parabéns pela determinação e pela vontade de amar.
    Ao contrário de um dos comentários anteriores, eu não acho que vem ao caso se o homem é perfeito, se tem defeitos ou se é da natureza feminina ou da cultura feminista, isso tudo não vem ao caso. Pessoas tem qualidades e defeitos. É preciso ter ciência dessa condição para poder se aceitar e poder viver.
    Parabéns também pelo depoimento.
    Abraços!

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  16. Oi, Aninha, A D O R E I seu texto. Que bela (e útil) reflexão!
    Quem quiser (e puder) que aproveite.

    Abraço, com carinho.

    Cecília

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  17. Aninha... poxa, vc não sabe o conforto que me deu ler seu texto, temos histórias parecidas, mas no meu caso, não deu tempo de viver como "Bella e Edward", nossa história juntos tinha 29 anos de convivência, mas Deus não quiz que dessemos continuação... É um pouco longo o que eu gostaria de explicar, mas agradeço do fundo do meu coração suas palavras... me ajudaram e estão me ajudando a ver que "para mim" ainda existe vida... a dor não passa, mas creio que aprendemos a conviver com ela

    Obrigada mais uma vez.
    Bjo no coração
    Cinthia

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  18. Poxa Ana , chorei muita verdade junta , e muito triste o final.

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