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terça-feira, 7 de abril de 2009

Amizades

Essa fase de tratamento tem fortalecido algumas amizades. De alguma forma, me aproximou mais das pessoas. E é tão bom se sentir querida! É tão bom sentir que os outros se importam com a gente e de uma maneira tão legítima.
(Nota: vivenciar isso é consequência de estar aberta às pessoas, de permitir que elas estejam comigo).

A hepatite também me trouxe duas amigas que estão fazendo o mesmo tratamento. Uma delas foi apresentada por um amigo em comum e o contato com a outra aconteceu por meio do nosso infectologista.
Faz muita diferença ter um referencial nessa hora. A gente se compreende (e percebe que não está ficando louca - pelo menos, que não está ficando louca sozinha, rs!)

Mesmo as coisas difíceis de se explicar, elas sabem. Meia palavra às vezes basta.
O efeito colateral do interferon que menos gosto são os calafrios. É uma coisa tão estranha que não dá pra descrever. Mas elas entendem.
E como as duas também são bem animadas, estamos sempre nos colocando pra cima... dá até pra dar boas risadas. E também estamos sempre nos lembrando sobre os nossos limites, que não dá pra ficar bancando a super-heroína o tempo todo (embora em alguns momentos só nos falte a capa vermelha).

Mas se por um lado o tratamento está trazendo e fortalecendo amizades, por outro também tem ficado claro que algumas "amizades" não me fazem bem. Estou me permitindo me afastar de algumas pessoas. É uma busca por me preservar mais, respeitar mais o meu sentimento, o meu querer.

E aí acontecem coisas engraçadas, como o dia em que eu simplesmente troquei de mesa na hora do almoço, porque não estava aturando o "blá blá blá" de um colega. Fui educada, pedi licença, inventei uma desculpa qualquer, mas o fato é que eu nunca faria isso antes. Virou motivo de piada mais tarde.

É como se, finalmente, aos 31 anos de idade, eu percebesse que não preciso ser a Miss Simpatia sempre e com todos.

Só que estar em tratamento não justifica a falta de respeito com as outras pessoas. A gente fica meio alterado emocionalmente sim, é como se se perdesse um pouco da noção do tamanho das coisas. Mas dá pra fazer um esforço pra manter a máxima: não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. Se pisar na bola, a gente pode pedir desculpa depois.

Não é porque estou passando por um momento difícil que isso me dá o direito de agir a la Dercy Gonçalves, ou seja, falando tudo o que penso, na hora que eu quero (mas confesso que às vezes preciso morder a língua, porque dá muita vontade).

Reflexão:

"E que o melhor de vós próprios seja para vosso amigo.
Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré, que conheça também o seu refluxo.
Pois, que achais seja vosso amigo para que o procureis somente a fim de matar o tempo?
Procurai-o sempre com horas para viver:
O papel do amigo é encher vossa necessidade, não vosso vazio.
E na doçura da amizade, que haja risos e o partilhar dos prazeres.
Pois no orvalho de pequenas coisas, o coração encontra sua manhã e sente-se refrescado."
Trecho de "A Amizade", de Gibran Khalil Gibran
GIBRAN, Khalil. O Profeta. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 1997.

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