Uma em cada 12 pessoas no mundo pode ter hepatite B ou C, sem saber. Não há sintomas e o vírus não é detectado em exames de rotina. Tem certeza que você não tem? Faça o exame, é gratuito.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Doação de órgãos: porque devemos doar

Hoje, 27 de setembro, é o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Coloquemos esse assunto em pauta em nossas casas (mesmo não pretendendo desencarnar tão cedo!), porque, para tornar-se doador, basta manifestar sua vontade em vida. Portanto: fale para sua família.


Para chamar a atenção para a importância da doação de órgãos, quero compartilhar uma belíssima história com vocês. Vou começar pelo final: o casamento de Julio e Aretha, em 18 de dezembro de 2010.  

Arquivo pessoal Julio Fernandes

Arquivo pessoal Julio Fernandes

Repararam no topo do bolo? Na placa de "Doe órgãos"?
Pois bem, esse casamento só aconteceu porque uma mãe, no momento da perda do filho (imagino que a maior dor pela qual uma mãe possa passar), autorizou a doação dos órgãos. Julio Cesar Fernandes de Almeida, um jovem de 28 anos na época, recebeu o fígado doado e teve a chance de continuar vivendo.  

Conheci o Julio Fernandes no Twitter. O que tínhamos em comum? Ele havia feito um transplante de fígado e eu talvez um dia precise de um.

Como já contei a vocês, dependendo do comprometimento hepático causado pelo vírus da hepatite C, o transplante passa a ser necessário. Minha Dinda Lia, que também tem hepatite C, passou pelo transplante de fígado há alguns anos. Meu amigo Fernando, do Grupo Hércules, também. Ambos passam bem!

Comovida com a história, pedi ao Julio para compartilhá-la com os leitores do Animando-C. Acompanhem abaixo o depoimento dele:

Aos 23 anos de idade, comecei a apresentar alguns problemas de saúde. Fui a diversos médicos e nenhum constatou de fato o meu diagnóstico: informavam que apresentava um problema no fígado e a única recomendação recebida foi tirar do meu “cardápio” bebidas alcoólicas - o que foi fácil, já que não era muito de ingerir bebidas. 

Mais ou menos cinco anos depois, apresentei ascite - retenção de liquido no corpo (popularmente conhecido como água na barriga), foi então que uma médica informou que eu apresentava um problema grave no fígado e que em 10 anos teria de ser submetido a um transplante

Na hora em que a doutora disse aquilo, parecia que um prédio de 100 andares caía sobre minha cabeça. Não conseguia me controlar: chorava feito uma criança, tentando entender. "Meu Deus! Não bebo, não fumo, por que logo comigo?" 

Procurava explicações, mas Deus me deu a cruz exatamente do tamanho que eu podia carregar. Todos nós temos problemas, dificuldades, cada um com sua cruz. O peso dela depende de como reagimos: se escolhemos só reclamar, a cruz fica realmente muito pesada. Mas se vamos à luta, com fé e vontade de vencer, a cruz fica mais leve, mais fácil de ser carregada. 

Nota da Ana Flor: É isso aí, Julio! Esse é também o espírito do Animando-C!

Lembro de procurar na internet algo que explicasse o que era um transplante de fígado, como era a recuperação, enfim eu queria saber tudo, mas por incrível que pareça não encontrei nada. 

Até que um dia, num táxi, conheci uma moça que tinha uma amiga que era transplantada. Coincidência? Para mim, era a mão de Deus colocando um anjo na minha vida. Consegui falar com a transplantada e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas.

Quando eu estava com 28 anos de idade, fui encaminhado para a fila de transplante.  

Peço licença para explicar algumas coisas: para entrarmos em um fila de transplante de fígado, temos que fazer inúmeros exames, é através desses exames que sabemos o nosso MELD (MELD - Model for End-stage Liver Disease - é um valor numérico, variando de seis (menor gravidade) a 40 (maior gravidade), usado para quantificar a urgência de transplante de fígado em candidatos com idade igual  ou maior a 12 anos. É uma estimativa do risco de óbito se não fizer o transplante nos próximos três meses, após sair esse resultado a equipe médica encaminha o paciente para passar por uma equipe de enfermagem, nutricionista, fisioterapia, psicologia e cardiologia. O porquê disso tudo? Muita gente pensa que o transplante é uma cirurgia simples, e na verdade não é. Temos que tomar medicamentos para rejeição o resto da vida, horários para os medicamentos e qualquer erro podemos rejeitar o órgão e termos que retornar para a fila.  

Após dar entrada na fila de transplante, recebi uma ligação informando que era o 1º da fila e que não podia sair da cidade, pois a qualquer momento poderia estar recebendo o novo órgão. Não sei como explicar em palavras o tamanho da emoção que senti naquela ligação no dia 10 de setembro de 2008. 

No dia 13/09/2008, recebi a ligação da central de transplante, chamando para fazer a cirurgia, mas não deu certo porque a doadora era uma moça de porte pequeno e tinha uma criança precisando do transplante (a prioridade maior no transplante é para crianças). 

No fim-de-semana seguinte fui chamado novamente. No dia 21/09/2008, fui submetido à cirurgia, que durou sete horas. A recuperação foi bem lenta, e, infelizmente, após 45 dias apresentei uma infecção generalizada. Retornei ao hospital e fiquei mais 30 dias internado. 

Para mim a recuperação desta infecção foi mais dolorosa que o próprio transplante. Lembro que o desespero quis tomar conta de mim, mas sempre fui um jovem de fé e Graças a Deus e à Virgem Maria consegui superar esse desafio. 

Sempre tive vontade de conhecer a família do meu doador e há pouco tempo consegui agradecê-la pessoalmente. A emoção do encontro foi enorme. Lembro que a mãe do meu doador disse que tinha perdido um filho muito querido, mas que através daquele gesto, sabia que tinha salvado várias vidas. E realmente salvou: não só a minha como também de mais duas pessoas. 

Por isso “DOAR, É CONTINUAR A VIVER”. Por meio de um gesto concreto de amor que é a doação, estou podendo realizar um sonho que é o de criar uma nova família. No dia 18 de dezembro de 2010, casei com uma pessoa muito especial chamada Aretha Glecia. Ela foi uma das minhas fortalezas para superar a dor e os desafios que o transplante requer.

Registro meu agradecimento especial ao meu pai Rosado de Almeida, à minha mãe Leni Fernandes e aos meus irmãos.

Quero registrar a frase que a Ana Barcellos postou no Twitter naquele dia, sinceramente uma das frases mais lindas que já li: “Emocionada por pensar que uma nova família se forma pela solidariedade de uma família que doou órgãos. Lindo demais!!!!!!!"

Nota da Ana Flor: Eu estava emocionada demais no dia do seu casamento.

Quero deixar para os leitores do Animando-C as seguintes palavras: 
“A pessoa que está na fila aguardando o transplante não deve ter medo de encarar esse desafio. Sabemos que não é fácil, mas temos que pensar POSITIVO, pois esse novo órgão vai trazer uma nova vida. Eu sempre encarei sem medo os obstáculos e com esse pensamento venho enfrentando esses desafios." 



Obrigada, Julio, por compartilhar sua história conosco. Além de uma mensagem de esperança, você reforça a importância de comunicarmos às nossas famílias nossa intenção de sermos doadores.

Quem quiser saber mais sobre transplante de fígado, recomendo que acesse o blog do Grupo Hércules  - Hepatites Virais - Doações e Transplantes de Fígado. Em especial, leiam o emocionante post abaixo, no qual o Fernando compartilha conosco o que sentiu quando descobriu o tumor.






4 comentários:

  1. Que história maravilhosa Ana! Se a grande maioria tivesse plantado no coração a semente da caridade e do amor ao próximo, outras famílias se formaria e o mundo seria um lugar melhor! Que bom que vc faz parte daqueles que querem mudar a realidade atual!
    Bjs

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  2. Ana Flor e Júlio,
    obrigado por compartilhar este depoimento. Não tenham dúvida que ele poderá interferir positivamente no desejo de doar de inúmeras pessoas.
    A afirmação sobre o pensamento positivo também é fundamental. Acredito que o melhor jeito de diminuir o medo do desconhecido é a informação.Ela levará o paciente tão próximo deste estranho, que a insegurança diminuirá e o equilíbrio se instalará paulatinamente.
    Com isto, o trabalho dos profissionais e dos cuidadores ficará bem mais leve.

    Parabéns e um enorme abraço,
    Fernando

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  3. Ana, que história comovente e que nos enche de esperanças. A história do Julio, eu sei, é apenas mais uma dentre centenas, milhares, não sei bem quantas histórias que tiveram um final feliz. Mas na medida que existem histórias felizes, existem em quantidade dobrada, triplicada, histórias de pessoas que continuam sofrendo nas filas de transplante. Já comuniquei TODAS as pessoas próximas que eu sou doador. Espero que muitas pessoas leiam seu post e sintam-se inspiradas para comunicar os familiares de que também desejam ser doadores.
    Grande abraço, querida, e encha-se sempre de esperança em relação ao seu tratamento. Tenho plena certeza de que verei um post lindo aqui um dia com você dizendo que está zerada! Minha oração é para que isso ocorra e que seja logo... Amanda tem muito que aproveitar nessa vida com você ao lado dela!

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  4. Gostaria de orientação venho sendo monitora a oito meses depois de um acidente ocupacional.

    No sexto mês de alterado meu exame de hepatite b afirmando que tinha vírus circulando mais tinha anti-corpo combatendo a infecção.

    Depois de dois meses repeti o exame e deu hepatite c como pode dar soro reativo para hepatite C se alteração era na hepatite B depois de oito meses de monitoramento.

    Peço Orientação.

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